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Mensagens

A mostrar mensagens de julho 16, 2017

É tão correcto isto.

Esta coisa do " politicamente incorrecto " é uma chatice do caraças. Um estorvo tremendo. Gostava de ter o direito de dizer: "não gosto" acerca de mais gente. De me poder chegar à frente e gritar: é estúpida esta pessoa, é ignorante, está doida esta pessoa. Pronto. Sentir-me capaz dos pés à cabeça em vez de uma amostra de cagufe, cheio de pruridos. Fosse essa pessoa parte de que espécie de gente for, de que grupo ou de que tribo. Seja essa pessoa uma multidão ou uma minoria. Sejam estas pessoas médicos alarves, ciganos preguiçosos, venezuelanos prepotentes, gays, escritores de sucesso, políticos locais, pessoas que escondem mortos dos incêndios, amigos de chacha, optimistas ferrenhos ou mesmo pessoas que dormem amarradinhas aos seus cães. Gostava de dizer isto mais vezes e com toda a segurança. Apontar dedos e passar o ónus da vergonha para o outro lado. Quer dizer, o direito tenho-o todo e o poder de o exercer voluntariamente sem receios também, a chatice c

Dia sim, dia não, uma beleza antiga.

Errol Flynn

Hemingway, o gato e o caminho

O gato ao fundo do sofá e eu a ler. Hemingway está cansado e escreve sobre o cansaço. Entendo-o como se estivesse ao meu lado a falar-me. Parece que teve uma infância feliz. Tenho pena que a felicidade nem sempre nos acompanhe os anos. Envelhecemos e tanta coisa nos fica pelo caminho. A felicidade nunca haveria de ser uma dessas coisas. A felicidade ou a inocência ou os amigos verdadeiros. Ou as auroras. Tudo o resto, que for de poeiras e insónias não carece de envelhecer connosco. Agora, veio o meu filho cravar-me um cigarro e o gato alarmou-se ao tempo curto de um bocejo. O que me entusiasma é saber-me pertença e ainda ter caminhos possíveis, abertos, que me fazem muito sentido. Vou escrevendo estas coisas porque ainda procuro muito ou porque me irrita aguentar a ideia de que todos os dias tem de valer a pena. Alguns são tão pequenos que desaparecem antes de os vivermos, outros arrastam-se e outros ainda ficam para sempre. Envelheci e certas coisas enraizaram-se-me no hábito de ma

Mamas há muitas...

O fotógrafo Alexander Gusov registra o encontro da sua esposa Sasha com mulheres da tribo himba. Namíbia, 2003 “Entrevistei uma jovem antropóloga trabalhando com mulheres em Mali, um país da África onde as mulheres andam com os seios nus. Estão sempre amamentando seus bebés. E quando ela lhes contou que em nossa cultura os homens são fascinados com seios, houve um instante de choque. As mulheres caíram na gargalhada. Gargalharam tanto que caíram no chão. ‘Quer dizer que os homens agem como bebés?’, disseram”.   (Carolyn Latteier, no livro All About Breasts)

John Heard

Recordam-se dos filmes "Sozinho em Casa" do Chris Columbus, I e II, aí pelos inícios dos anos 90, com aquele miúdo muito engraçadinho, de olhos azuis esbugalhados e uma boca espantada, que depois cresceu e ficou esquisito e totalmente esquecido? Claro que se recordam. Não há Natal em que isto não passe na TV. Então, também se recordam do John Heard, de certeza. Pois, este senhor morreu hoje. Foi passar o Natal a casa. John Heard (1945-2017)

Chester Bennington

O Chester não conseguia mais decidir se  era homem ou  máquina ou se a dormência seria um estado temporário. Ou a solidão ou o monólogo interior de rendição levarem-lhe a melhor, e optou pela máquina. No fim, suponho, já pouco interessa. Desligou-se. Os Linkin Park nunca foram muito a minha praia sonora mas  têm duas ou três músicas que ainda mantenho numa playlist algures. Se forem ver com atenção, as letras das suas músicas, todas seguidinhas, contam uma história assim para o deprimente. Não sei. Isto das mortes de músicos começa a tornar-se uma epidemia.  Ele bem que avisou.

We've Landed on the Moon

Foi há 48 anos.... Cenas do filme "Dumb & Dumber" 1994 Irmãos Farrelly

Piquenas estórias de amore VIII

Já era quinta-feira e o mundo continuava fantástico. Disse-me que sim: "É tudo simples, viver é simples. Que mais há para ser dito sobre o amor? que é bom, que existe?  - E sobre as ausências e os grãos de desespero pelo mundo afora? Que crescem e crescem, sem parar. E sobre as cordilheiras de pura dor que atravessam o mundo? - Pergunto-lhe. - Que são o que são, e que não há nada demais nisso. E sobre os abraços espontâneos de um filho, não queres falar? E sobre aquela borboleta que me entrou ontem pela janela. Sobre os dois euros que encontrei num casaco de Inverno e te convidei para vires tomar café hoje comigo. Sobre estas coisas, queres falar? Acuso-o de optimista, e ele sorri com gratidão: "Sou. Coisas há que nos dão garantias de estabilidade aos dias. De contrário, chega Dezembro, e nada feito a que se chame vida. Rio-me e penso que talvez aquilo seja uma estreiteza que lhe deu neste dia. Está bem que ele não queira viver para sempre, mas rio-me porque lh

...pelas nuvens.

Voar onde só despontem nuvens de aceitação,  é fácil... Difícil,  é pairar acima da distracção de todos e manter a leveza de um pássaro orgulhoso, que nem se importa, de mesmo assim, cair.

Bonito, bonito...é passear o bicho

Fotos tiradas à pressa de sítios.

Escreve-se porquê?

Nunca fui moço de ter heróis de vida. Andei sempre muito para dentro de mim mesmo, e ainda o faço. Vi muitos, todos feitos de malhas felizes e movimentos sem freios e fugi-lhes dos caminhos, desconfiado, sempre que pude. Tive as cuecas metidas no rego mais vezes do que achei razoável, mas nem assim mudei para menos crica do que aquilo que sou. Primeiro foram os LEGOS, e aquilo tomou-me de assalto e durou anos e anos de satisfação indolor. Não havia maneira de me cansar daqueles encaixes coloridos. Faziam-me sentido, acalmavam-me e já me instruíam um pouco na arte de se contar uma história. Depois, mostrei as cores das minhas verdadeiras compulsões e atirei-me ao coleccionismo. Coleccionei praticamente de tudo a que podia deitar a mão sem grandes custos; selos, latas, rótulos, moedas, isqueiros, bases de copos.. acalmei todo este furor, ou quiçá o tenha substituído por outro, quando li a primeira revista da Editora Abril do Pato Donald. A inocência não sabe de que terra é, e eu, fu

Repetir o belo até ao infinito

Ficaria a ver-te cintilar até as estrelas todas desaparecerem no infinito... Rita Hayworth em "Gilda" de Charles Vidor (1946)

O Surto

Donato vinha apressado, trazia a maleta na mão direita e, assim que virou aquela esquina manhosa, perdeu logo a conta dos passos até reduzi-los num nada. Encostou-se cambaleante à parede da padaria e por ali mesmo ia escorregando devagarinho até se ver sentado na calçada com a maleta defronte. Cinco transeuntes fizeram-lhe cerco e as questões vinha todas seguidas e todas muito iguais: "O senhor está bem? Senhor Donato, sente-se mal? Sente-se bem Senhor Donato?" - Alenquer Donato, era uma figura que quando abria a boca pela cidade os outros fechavam as suas de imediato. Fazia muito por abri-la agora, movia os lábios com vontade, mas nada de respostas. Um senhor alto e todo vestido de azul sugeriu que sofria muito, dos ataques que deitam as pessoas ao chão. Donato reclinou-se, estava agora deitado ao comprido pelo passeio e um rapaz novo, esgalgado por ele todo, pediu aos outros que lhe dessem espaço à respiração. Abriram-lhe o casaco pelo trespasse, alargaram o cola

Os movimentos das eleições

Os tempos da democracia unilateral eram outros. Agora é um nadinha mais complicado dizer coisas destas. É que, descontando a formalização dos anos todos iguais, há um subconsciente novo malsão político que emerge em Vila do Conde.  Sempre esteve por aqui. Isto é, deixado em relativa liberdade ou minimamente condicionado. Por muito que a evolução da cidade e, em reduzidíssima parte, do concelho, tenha demonstrado a necessidade da vida comunitária para a sobrevivência desta unilateralidade, ao fim deste tempo todo, assumiu-se por fim a selvajaria, (expressão por mim utilizada, não pelos brutos em si) e este ano, ao que parece, ganhamos a hipótese de uma eleição possível de chegar de muitos lados diferentes, de tantos movimentos. Tem os seus méritos óbvios, é natural que tenha. A Democracia necessita das fracturâncias para se lavar de tempo em vez. E romperam-se muitas coisas por aqui. Lealdades, confianças, posturas, dignidades, programas eleitorais, até o bom senso se partiu ao m

O Coração Abstracto

Procuro que o sublime, jamais nos encontre ou tenha a audácia de entrar sozinho, para dentro de mim. Às vezes, pelo mar dentro entro eu e levo-te, confiante, só com uma vela na mão. Tropeçamos nos nossos próprios gigantes e lá atrás explode-nos inteiro o céu num refulgente clarão. Abro uma recta com as pernas a nadar ao meu lado, lutas contra tudo de que nos despedimos e ao longe automático, já se reduz o pó mirabolante destes nossos instantes. No mar também faz falta uma luz mas as velas ardem todas até ao fim e o mar ri-se e todo ele nos envergonha. Os dias melhores para fugirmos,  passam-se assim, longe de ser esta a nossa cruz. Nesta praia abandonada fazem-se desenhos em segredo a areia, ao amor serve de fronha e a poesia levanta-se da espuma, por mera devoção. Aqui nos agarramos com dedos e ilusões a nada sério que se entenda são dias a brincar como a letra trauteada de uma canção.

A luz surge onde nenhum sol brilha…

A luz surge onde nenhum sol brilha; Onde nenhum mar se agita, as águas do coração Fazem avançar as suas marés; E, fantasmas destruídos com vermes nas suas cabeças, Esses objectos de luz Percorrem a carne onde nenhuma carne esconde os ossos. Uma candeia junto às coxas Aquece a juventude e a sua semente, queimando a semente da idade; Onde nenhuma semente cresce, O fruto do homem mostra o seu vigor nas estrelas, Brilhante como um figo; Onde nenhuma cera existe, a vela apenas mostra os seus cabelos. A manhã surge atrás dos olhos; E o sangue agita-se como um mar Da cabeça aos pés; Sem defesa nem protecção, as nascentes do céu Irrompem dos seus limites Ao darem-se conta de um sorriso no óleo das lágrimas. Como uma lua a noite cerca Com sua órbita os limites do mundo; O dia nasce nos ossos; Onde nenhum frio existe, a tempestade destrói As roupas do inverno; E a primavera surge nas pálpebras. A luz surge em lugares secretos, Nos limi

George A. Romero

"Night of the Living Dead" 1968 Os grandes são assim, eles morrem e a gente põe-se em bicos dos pés, a falar de nós a pretexto deles, tentando abocanhar a nossa pequena parte da história. A minha nasceu com este filme: " Night of the Living Dead " que vi na RTP 2 lá pelo estranho ano de oitenta três ou oitenta e quatro, em uma idade em que mal me cresciam os pelos em sítios sem luz solar. Podia jurar que estive muito valente lá sentado, às escondidas do sono leve dos meus pais, mas não seria verdade. Raio de coragem do homem, que se lembrou de reinventar um género inteiro de cinema, e de trazer por arrasto milhões de pessoas a desejarem se assustar. Segui-lhe o palmarés com atenção redobrada este tempo todo e nunca muito me desapontou. Encontrei-lhe a veia criativa a vir de novo ao de cima no delicioso e mui inteligente: " Dawn of the Dead " 1978, que ainda hoje me empurra para longe dos centros-comerciais, menos inchada em " Day of the Dead