Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro 13, 2019

Saudades de ver bons filmes (XIX)

Selvagens. Livres. Experimentalistas como a própria Vida... Por vezes, a vida mostra-se mais dura do que parece ser possível aguentar, e começa-se a fingir que já  nem notámos a passagem dos dias. Tampouco já nem reparámos nos disfarces daqueles que nos rodeiam e o que nos apetece mesmo é mandar tudo às favas e partir. Despedirmo-nos de tudo um pouco e sair à aventura antes que passe a nossa vez. Metermo-nos à estrada, desfrutando deste mundo maravilhoso por todo. Contudo, epifanias desta natureza são coisas que requerem o seu quê de esforço. Não é coisa de somenos deixar-se uma vida inteira para trás das costas. Assim que encolhe-se os ombros e retorna-se ao facebook ou ao sofá. Mas os heróis insuspeitos existem, e foi o caso de Chris McCandless (interpretado no filme por Emile Hirsch). - Certo dia simplesmente decidiu tomar fôlego e colocar em prática o que muitos apenas sonham às escondidas. Foi. Tanto se dedicou à gloriosa tarefa de ser um puro espírito-livre,

As Crónicas do senhor Barbosa XVI

Há pouco, de manhã, deparou-se-me a senhora Norberta, a vizinha do 1º esquerdo, e saudou-me levando os olhos ao céu. Tossi de imediato. O raio da gripe! - Que Inverno! - Disse-me ela após a pausa do cumprimento de cabeça. Fiz o mesmo, para não me estranhar mais do que o costume; "Sim, que Inverno!" - Exclamei elevando um pouco o saco do pão até à tosse, e só depois é que levantei também desajeitadamente os olhos. Aquilo pareceu agradar-lhe, pois sorriu pelo seu caminho descambado adiante. Era hóspede da irmã mais nova, com rótulo de pensionista, cujo marido se encontrava em situação particularmente vantajosa. A senhora Norberta partira a bacia dois meses depois de perder o marido, três anos após ter perdido o emprego na fábrica das calças. E a frase " parente pobre " que soa tão mal a uma irmã como a qualquer um, nunca a ouvi vir pronunciada desde o andar de baixo. Só que o chibo do marido da irmã, o grandessíssimo senhor engenheiro, conta tudo à vizinhança c

Príapo em dúvida.

O Sangue dos Géneros

Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar. Os homens vertem sangue por doença sangria ou por punhal cravado, rubra urgência a estancar trancar no escuro emaranhado das artérias. Em nós o sangue aflora como fonte no côncavo do corpo olho-d'água escarlate encharcado cetim que escorre em fio. Nosso sangue se dá de mão beijada se entrega ao tempo como chuva ou vento. O sangue masculino tinge as armas e o mar empapa o chão dos campos de batalha respinga nas bandeiras mancha a história. O nosso vai colhido em brancos panos escorre sobre as coxas benze o leito manso sangrar sem grito que anuncia a ciranda da fêmea. Eu sou uma mulher que sempre achou bonito menstruar. Pois há um sangue que corre para a Morte. E o nosso que se entrega para a Lua. Marina Colasanti Edições Rocco, 1993.

Todas as inclinações das Flores

"It's ok to be angry...but not to hurt me..."

Textos Devolvidos VII

(...) O Septo de colunatas assim formado, é guarnecido por estátuas, sendo que a mais imponente de todas encima um lindo relógio, e em segundo plano, vêm-se os maiores tubos de todos, assim mesmo, mascarados à boca de cena. E por fim a frisa decorada por uma corrente de pequenas colunas majestosas, e de uma cornija ornada por dentículos, por medalhões e por rosáceas de um trabalho delicado, que completam a beleza celestial deste extraordinário instrumento. De tal forma o impressionou com a sua exuberância que o conseguia sempre descrever, assim, com todos os detalhes, mesmo após muitos anos. Que vergonha  Dan Brown,  - Disse Adães muito baixinho. - Não te teres debruçado sobre a beleza deste instrumento de Deus. Não acredito, que não te tenha tocado tanto quanto o fez a mim? Terás entrado sequer cá dentro? Terás feito algum esforço por esse monumental êxito de literatura? Literatura, Ah! - Largou alto a interjeição sem querer. E precisamente sob o mesmo, uma figura recortada