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A mostrar mensagens de dezembro 10, 2017

Nada morre, nunca!

Dia sim, dia não uma beleza antiga

Ava Gardner

As Crónicas do Senhor Barbosa V

Seria de supor que o senhor Barbosa viesse novamente a lembrar-se de deixar escritas mais algumas palavras. Afinal é um homem, um filho e um irmão. Foi um pai e um marido, um amante altruísta, companheiro subterrâneo, cúmplice circunstancial. Até foi amigo apático de alguns, mas já se esqueceu de quem, e o pai, figura fantasmagórica sempre perfilhada em uma luz mais brilhante por entre todas as chamas mais explosivas da sua vida, veio afinal a cumprir, deixando-lhe instruções para se salvar no mundo, como sempre lhe prometera que faria. Estava tudo em uma cartilha manuscrita em letra bem desenhada, que o senhor Barbosa só agora descobriu oculta entre uma legião de restos descartados da sua infância, ao lado destes, metida dentro de um pano atafulhado naquele nicho de tijolo de burro que um dia de tempestade fez soltar-se da lareira apagada. Para ele aquilo era um acto de adoração. Mas o senhor Barbosa ficou tão arrebatado pela descoberta, ensombrado pelas nuvens visíveis por cima

Corpo visível

a esta hora entre os blocos de prédios enevoados a bela mancha diurna dos calceteiros na praça e os dois amantes que hoje não dormiram vão partir nos braços da sua estrela à beira do caminho ladeado de sebes de espinheiro uma carta uma letra muito fina extremamente caligráfica onde a aventura do homem que devolve as palavras que lhe são remetidas deixou a sua marca e o duque da terceira levanta o braço comentando seguido pelas aves que acordam a duzentos e mais metros de altura o que não é ainda a grande altura sim sim não são quem sabe dentro do grande túnel digo-te a vida esta nuvem que vai para o centro da cidade leve e rosada como a proa de um barco bateira que me trás os dados e a roleta onde no branco ou no preto devo jogar jogando-me contigo malmequer bem-me-quer ou muito ou pouco ou nada o que só com as mãos pode ser soletrado só nos teus olhos nos teus olhos escrito dentro do grande túnel digo-te a vida o moço que há uma hora não fazia senão fumar cigarros o mesmo que julgou

There's a Storm Outside...

Brilho fosco das Mudanças - Parte 2

continuação... Chegava a pontos extremos, de lhes escrever poemas. Longos versos jâmbicos, que depois lia em voz alta no salão térreo, virado às vitrinas que resplandeciam de ouro e madrepérola, naquelas manhãs sem tempo ou luz. Duas gerações de Viriatos amealharam ali mais de dez mil botões, muito embora, poucos daqueles raros, que tinham conhecimento de tais despojos, fizessem fé de que haveria tantos assim no mundo inteiro.  Com o passar dos anos, sumiu-se tão rápida a réstia saúde do seu corpo, a uma velocidade prodigiosa. Não era nada de estranho, a saúde falha-nos por vezes, mais ainda, se nem nos apetecer guarda-la com gosto e cuidado, e todos os médicos consultados assim lho asseguravam. Houve um até, que em corajosa bravata chegou mesmo a predestinar-lhe um fim prematuro. – Tolo! - Ou o senhor Viriato se deixa dessas tolices e se agarra à vida, come e bebe com regras, e aproveita as maravilhas que o viver regrado nos oferece, ou esta foge-lhe num instante, como um p