Há muito que não te falava, escrevendo-te. Hoje é o dia dos teus anos, filho. Escrevo-te. Quero te dizer que o Verão esmorece sempre por esta altura, acaba-se por esta altura, mas volta sempre. O Verão jamais desiste de retornar. Também que Setembro voltará e que a vida por cá se ajeitará, no entretanto; que as manhãs estão cada vez mais frescas e as noites também. Não faz mal, filho. O Outono também apetece e com ele os passos de volta a nós. Quero dizer-te que a noite esconde os sorrisos e mostra os dentes e o dia faz o inverso. E para te dizer tudo isto escolhi escrever silêncios e abrir-te o ferrolho enferrujado do meu coração. Acho que apesar de tudo, sempre acabei por escrever um poema aceitável. Que amadureceu em ti por vinte e três anos.