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Mensagens

A mostrar mensagens de abril 26, 2015

Cruzamentos

A recta do Aqueduto

Não passa um dia inteiro sem me cortar em duas metades tão inexactas. Uma é o que consigo ser, a outra, aquilo que sou.  Vinte e quatro horas depois, recomeço a decepar as mesmas ideias em duas, depois de tantos cortes em pares infinitos, já me perdi nalguma metade antiga, há muitos anos atrás. Tornei-me achatado, uma figura bi-dimensional, já me chamaram de segmento de recta. São sempre as mesmas relações partidas longitudinalmente, as mesmas fendidas frustrações, os mesmos medos divididos. Parece que vou sobrevivendo com uma faca afiada na cabeça, cortando em linha direita a possibilidade de um futuro diferente. Estou tão cansado! O pior é ser tudo um corte simulado. Não vejo ponta de guelra em lado algum, não sinto sangue a escorrer por nenhum lado. É árido isto. Longe de ser fresco.  Vou procurar todas as metades esquecidas e fazer o puzzle de mim. Um dia serei um quadro emoldurado fora desta minha janela rachada.

Conversa de mau fígado

- Definitivamente afirmo-te que qualquer derrotado tem o potencial para ser mais forte que qualquer outro. - Outro quem? - Questionou-me de copo no ar. - Não te parece óbvio? - Não, não me parece. Se ainda ao menos o explicasses melhor. - Deu um longo gole primeiro, e depois um segundo, mais rápido até esvaziar o copo. - Que outro mais derrotado que este, claro. - Ah! - Exclamou longo, com um desdém carregado. - O que queres dizer com isso? - Com o quê? - Essa tua exclamação desrespeitosa. - Que andamos aqui aos círculos meu velho. - Voltou a encher um terceiro copo. Quando lhe quis colocar um cubo de gelo, recusou-o com a mão. - Gosto da pureza ambarina da minha bebida. A água, mesmo no seu estado mais sólido, transforma todos os uísques em mijo. Quando tiver sede beberei água, por agora, só me apetece esta realidade viciosa. - E isso é o quê, a tua filosofia de vida? Riu-se para dentro - Dizias algo sobre... derrotados? De-rro-ta-dos! - soletrou alto. - Meu c

Cio de fim-de-semana.

Todas as gatas tem amigos homens, em especial aquelas mais oferecidas. Importante porém, será o evento cósmico daqueles homens que as irão amar, para sempre!

Aos Domingos sou mais velho que nos outros dias

Pode ser que me encontre num dia em que já nem seja velho, jamais. Eu bem tento envelhecer, eu bem tento, mas só me imagino a brincar com meninos de lata. O meu corpo cansa-se para trás, a cabeça nem se despedia, queria sempre mais, a eternidade queria, só um bocadinho mais. Perdi anos com esta cabeça, de tempo só dela de que nem sei se estou isento, se envelhecer ao meu lado, serei somente aquele que a empata. Pode ser que um dia o meu corpo seja de ninguém, entrego-o à ausência de um dia que só existe nesta demora. A cabeça sente-lhe o peso por baixo, e pendura-se, devagar esquece-se de que é Domingo, e que o tempo hoje é mais lento. Se lhe criar um amigo, será feito daquele tempo que ninguém tem, da minha parte, já se acabou o tempo que andei anos a deitar fora, perdi a cabeça, num corpo envelhecido antes mesmo de acreditar no tempo ridículo que por dentro eu invento.