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A mostrar mensagens de novembro 25, 2018

Hayao Miyazaki

A razão de pensar que a vida tem uma finalidade será sempre um alicerce para a construção de um homem. Os observadores, que entendem esta razão como substância humana, facilmente a discernem perante uns mais do que em outros. Talvez seja esta a molécula da genialidade. Se assim for, não tenho dificuldade alguma em apontá-la neste senhor: Hayao Miyazaki (1941-2018) Desde pequeno que gosto de banda-desenhada e de filmes de animação. Ao crescer, felizmente que não perdi esta propensão, apenas a depurei, e os filmes saídos do mítico Estúdios Ghibli (Tóquio), do qual Miyazaki foi co-fundador em 1985, sempre me ajudaram nessa tarefa tão grata de me deixar simplesmente deslumbrar pelas histórias encantadas que foram produzindo ao longo dos anos. Apenas para citar aqueles realizados por Hayao Miyazaki, recordo: " O Castelo no Céu " (1986),  " Totoro " (1988), " Porco Rosso - O Porquinho Voador " (1992), " Princesa Mononoke " (1997), &q

O Artista que faz falta Conhecer

Um dia desenhei um rectângulo largo em uma folha de papel-cavalinho, não foi salto nenhum, pois em anos antigos, já me tinha lançado a fazer rabiscos aqui e ali. Em pastel sobretudo, e uma vez cheguei ao acrílico, mas aquilo eram vãs tentativas sem finesse alguma. As artes plásticas são um mistério ainda, e uma das minhas grandes decepções como ser humano criador. Essa e a música. Creio até que terei começado a escrever por me faltar jeito para o desenho e para os instrumentos de sopro. Assim que voltemos ao meu rectângulo. Esquissei-o de vários ângulos e adicionei-lhes cornijas e janelas. Alguns sombreados. Linhas rectas e perspectiva autónoma, cor e até algum peso acumulado. Longe do real mas muito aproximado deste. Quando dei por mim tinha o Mosteiro (Stª. Clara) desenhado, em traços grosseiros e pôs-me feliz ter chegado ali, até me dar conta que cometera plágio. O meu subconsciente foi buscar o trabalho do Filipe Laranjeira ao banco da memória, e sem me pedir licença, copiou

Textos Devolvidos III

Aquele Céu de um Cinzento Cristal O rumor fino das pessoas que passam pela marginal ainda em obras de alargamento suplanta o das marés vivas de encontro às rochas. Até em dias de nevoeiro cerrado engolfam o ruído sonolento da sirene de vapor, em efeito, o compasso da sua passagem contínua e embirrenta, só destrói a idílica paz marítima deste lugar de istmo rasurado dos mapas comuns. Uma tarde, David estava nas traseiras a tirar fotografias ao céu, quando percebeu que existiam demasiadas pessoas novas em Cabo Alvo. Como se de repente se tivessem reproduzido em número, do mesmo modo que o fazem os ratos, ou os insectos de bando, exponencialmente, por mero mecanismo de sobrevivência. Visto tudo em conjunto, era preciso reconhecer que a vida moderna tinha muito más intenções. Pareciam andar todos à deriva, a falarem cegos e sozinhos, alheios a tudo. Deixou de as fotografar, e foi à cozinha dar dois goles de uísque para não se lembrar de meter um outro ansiolítico pela goela abai

Sons de Memória

Bernardo Bertolucci

A minha última recordação do trabalho deste grande mestre, foi a de uma noite de grandes chuvas em que fui exorcizado pelo filme "The Dreamers" (2003). Esta foi a altura em que senti que o realizador me examinou nu, com uma caixa de ferramentas para reparar males da alma. Veio a ser o penúltimo filme que dirigiu, e indiscutivelmente um dos seus melhores, espantou-me os mau humores todos como que com um ramo de urtigas. Bertolucci tinha uma forma muito diversificada de trabalhar, e contudo, é possível seguir-lhe os traços estilísticos em qualquer um dos seus filmes. Visceral mas encantador. Epopeico mas extremamente intimista em simultâneo. Foi sem sombra de dúvidas um dos derradeiros mestres desta arte que tanto amo, o que agora nos deixou. Qualquer um dos seus filmes acendia-nos uma fogueira em pontos distintos da alma, e tinha este extraordinário toque de midas, para decifrar identidades secretas nos seus personagens, partilhando-as connosco. O volume do seu trabalho t