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A mostrar mensagens de novembro 30, 2014

Piquenas estórias de amore IV

- Substituir-te, foi o mais difícil de tudo. Se realmente fores como sempre te julguei, uma peça rara de porcelana ajeitada em sons puros do mais moderno sistema de som, presumo que, a minha antiga grafonola nunca conseguirá esquecer a boa música que existiu entre nós. Estava tudo errado lá ao longe, não sei se ficará mais certo aqui. - Havia duas ou três crianças soltas na aldeia que habitáramos juntos em criança, lembras-te? Filhos únicos do pouco que nos restava de amizade. Agora, essa aldeia ficou sem folhas, e tu, a teu bel-prazer, vais dizendo coisas de mim, sem freio, como ervas altas que ocultam perigos inomináveis. Como faço para te perdoar isso? O outro leva a mão à boca. Chora sem se ver, dentro de um armário do passado. - Quem é que fala assim? - Assim como? - Assim assim... como nós falamos um do outro. - Mantém-te aqui comigo. Que mal nos fará ficarmos? Sabe-se lá o que o futuro nos reserva? Alguém cantava uma canção triste ali perto. Talvez alguém q

O Relógio de Natal

O Relógio de Natal Aquela véspera de Natal veio encontrá-lo completamente perdido. O presépio por armar, e o mal-amanhado pinheiro de sempre, aquele que todos os anos desempoeirava dos arrumos, esquecido num canto, junto ao bar, desconchavado em quatro ou cinco fanicos ainda por montar. O carrilhão austero do relógio anunciava cinco batidas aterradoras. Garcia era íntimo deste ruído de címbalo, quase como se ouvisse a voz do pai a chama-lo. O relógio havia sido a única herança que conseguira surripiar do sarrabulho das partilhas entre os seus três irmãos, e remexia-se em cuidados extremosos para o manter em perfeito funcionamento. - Cinco horas! – Exclamava em surdina. – Não vou ter tempo. Multiplicava-se, corria, deliberava e providenciava mil coisas, mas a atrapalhação era muita, e só Albina conhecia o lugar de cada coisa naquela casa, ele, cumprira a sua função de recolher os enfeites, a árvore artificial e as peças do presépio dos seus lugares

Todos os gatos são cinzentos menos o meu.

Todos os donos têm os gatos que merecem. Acredito nisto. O Homem faz de conta que é capaz de compreender tudo, mas, no que toca ao seu gato, não existem momentos para fraquezas. Se pensarmos no que dizem sobre os gatos terem sete vidas, qualquer dono de um gato, faria um grande favor há Humanidade em portar-se realmente como um Homem perante isto. Todos os gatos têm sete vidas? É capaz, mas o meu só precisa de uma, a nossa. Afinal, que grandes ambições poderá ter um gato? Cuidados, um amor confortável e comida farta. Não vejo grandes diferenças entre nós. Julgam-se os animais domésticos como pessoas. E depois? Todos os dias fazemos racionalizações, que são aquelas mentiras clementes, que servem o propósito de nos fazer sentir melhores. E os gatos nunca nos mentem, manipulam-nos sim, mas inadvertidamente, não sabem que nos estão a mentir, por isso, nunca nos mentem verdadeiramente. E só os gatos o fazem, e só porque a natureza os dotou dessa ferramenta num ambiente domésti

Pequenas notas sobre Ciro

Este pequeno texto é sobre um tipo chamado Ciro Milhares.  Em Istambul aprendeu a andar de mota e recebeu lições de geografia de um descendente do Alexandre o Grande. Começou a comer chamuças a meio do estreito de Dardanelos, e ganhou-lhe o gosto para a vida. Em Valparaíso conheceu a Flora, que o ensinou a nadar de costas. Mais tarde, em Cartum, na confluência dos Nilos, leu o Ulisses do Joyce em três dias, e apaixonou-se por um gato. Em Praga descobriu que não quereria jamais ser velho. E tudo isto, sem nunca sair de uma decadente urbanização parada no tempo, que dizem ficar ali para os lados de Labruge. Este rapaz, vem a ser o personagem principal do meu novo romance: "A Ausência dos Pássaros" Amigos leitores, leriam isto? Caros senhores editores, publicariam-no?

Esta Sexta, todos com FOME nas mãos!

Nem a Isabel Jonet se lembraria disto!

Todos os céus merecem um cão (um gato, uma tartaruga, ou mesmo um periquito...)

Não me tenho em conta de ser um tipo muito piegas, porém, c ertas coisas que se ouvem, não se podem mais desouvir, seguem-nos como cães obedientes até sítios por descobrir, cá dentro, enroscam-se, fazem ninho e ficam.  Um destes dias, no consultório veterinário, uma criança e a sua mãe visitavam uma cadela de 19 anos, recém-operada. Enquanto fazia festas à gata, esperando a nossa vez, abstraí-me dos g uinchos estridentes vindos da TV e absorvi aquilo tudo , como se fosse comigo. A mãe explicava à menina que se a cadela fosse uma pessoa, já teria mais de 100 anos , e, como já não aguen tava mais o peso da idade , como já não havia cha nce de melhoras, o melhor era mesmo que fosse para o céu, porque o céu também precisa de cães . A reacção da miúda foi o que me desarmou sem remédio : abraçou-se à mãe e a c enou que sim com aquela cabecinha inconsolável. Não chorou, não respondeu, não fez birra alguma. Disse que sim! Porra! Não consegui deixar de pensar na possibilidade