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Mensagens

A mostrar mensagens de julho 29, 2012

Cabanas de Tavira

Aterroriza-me o espaço intermédio entre a luz e o nada.
Depois de uma manhã tão bem passada a tentar apanhar caranguejos, pequenos peixes e conquilhas duvidosas, em poças de água tão tépida como a minha disposição, concluo:  A água turva não mostra os peixes ou conchas em baixo; o mesmo nos faz a mente nublada. 

Procura-me no Sol

Uma manhã perfeita, eu estava só, ouvindo a chama do Verão, à deriva, só à deriva... Caía sem peso, flutuando nesta neblina dourada, respirando os sons azuis do céu, repletos de memórias de outros dias. E no meu sonho era um jovem, e sendo jovem queria ser melhor. Com flores na boca e nos meus olhos, flutuando apenas nas cores do céu, procurando as estrelas e os anjos. Transformado pela subida, olhei para baixo e vi o mar. Aí tracei em acalmia absoluta, os contornos do teu rosto. Nuvem do céu, que pareces, um burburinho de água. Leve sonho que me carrega, por seres tão minha, como a nuvem é do vento. Não faz mal... Cantei depois, no recolhimento, das memórias de outros dias. Empurrei para cima o céu, e no meu sonho era criança. E sendo criança queria ser melhor até desaparecer no teu Sol. Casimiro Teixeira 1998

A casa da Baía do Tigres

(...)  Era um lugar frágil e sentimental, de tangos e boleros que tocavam por dentro das paredes e se ouviam à noite só em sonhos. Quem lá morava enlouquecia lentamente até fazer parte dele. Era um lugar feito de muitas loucuras, que tossia e suspirava e arrepiava-se às vezes. Pareceu-nos o lugar certo para nós. Ao acercar-nos, o céu tingira-se de púrpura com franjas alaranjadas, e o mar exsudava um odor a gardénias que nos inebriou os sentidos. Linda envergava um vestido leve, quase transparente, de cor lilás, e a sua beleza simples, parecia fundir-se com a do próprio entardecer. Mesmo antes de alçarmos a escadaria de madeira da entrada, já estava convencido. Seria ali que nós ficaríamos, para sempre. Em frente, o Atlântico embalava sonhos com o seu restolhar lânguido e perfumado, a própria mansão alardeava um tom suave de beleza que serenava o espírito. Apesar do seu aspecto delapidado de catedral em ruínas, clamava por vida em cada nicho, cada divisão. A rodeá-la crescia um

Calma preguiçosa

Deixem-me o sonho! Deixem-me o sonho! Sei que veio já a manhã desperta, e porém,  sinto só acalmia pelo meio. Vagueio solto por um lugar onde nem ponho, nem disponho de vontade certa. Aqui soberana, a preguiça tem, o poder final do seu enleio.

Hollywood: Um filme sem história.

Deixei de ver filmes de Hollywood. Decisão consciente, e tomada em definitivo, sem hipótese de retrocesso. Existem excepções, eu sei, mas até essas as desconsidero. O rácio de toda aquela artificialidade de vidas filmadas, cada vez mais me incomodava, e proporcionalmente me diminuía o interesse pelas histórias contadas. Via cinema e esquecia-me de seguir o enredo. Isto perturbava-me por demais, pois quando saía da sala de cinema, quando desligava o dvd ou a televisão, tomava consciência que havia só reparado na perfeição absurda dos dentes, na frieza insistente dos olhares, ficando desarmado pelo explosivo, inquieto até.  Os gestos canónicos de sempre cativavam-me e no fim entre os que morriam e os que se apaixonavam não havia ali mais nada. Era uma perfeição improvável.  Não podia ser! Revoltou-se-me a vontade. " O cinema é verdade vinte e quatro vezes por segundo." Foi Jean-Luc Godard quem o disse, não eu, porém, estou certo de que mudaria radicalmente esta fr