A vida lá fora é um documentário. Do segundo andar penso em palavras densas para mandar para a rua, atirá-las ao filme em constante rodagem. Daqui contemplo o ar das gaivotas e quero esse vento. Sou fraco. Lá fora há gente com preocupações. Aqui vive-se um tédio burguês. As janelas duplas encerradas fecham a vida para dentro de um computador. Sou fraco. Não é por alguém que fraquejo só me diluo no ar ou escorrego como a chuva-lágrima a solidão alimenta-me na boca até um dia. Um dia meto-te a lua no ventre para que nasça o sol de manhã. Esta manhã nasceu do frio, suficiente. Sou fraco. De tronco nu, destapado, estendido, os ombros queixam-se os pés queixam-se do chão a cabeça queixa-se do céu. De não voar. Sou fraco! Se a alma fosse etérea já teria partido para longe de todo este sangue inútil.