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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro 19, 2017

Seis anos depois...

Custa-me a crer que depois de mais de seis anos volvidos, um livro meu ainda esbraceje por aí nas mãos de alguém, que esse mesmo alguém o venha a ler e, que por algum milagre, se decida a enviar-me mensagem por e-mail dando-me conta daquilo que achou sobre o mesmo. Bem, aconteceu mesmo. E deixo-vos aqui a mensagem na íntegra (com a sua autorização devidamente) para que saibam o que pensou o Sr. Laranjeira, após o ter lido. Muito obrigado. "Teria muito a dizer-lhe sobre este seu livro ( Governo Sombra ), mas p oupo-o maiores deambulações: acho que é um livro acima do mediano, que justifica encómios e leitura. Tem a densidade dos grandes romances que desbravam as entranhas do que é ser humano. Faz a digressão pela escuridão construindo uma ideia em que os caminhos se bifurcam e alongam obrigando o leitor a olhar o mesmo cruzamento várias vezes, sempre chegando por um caminho distinto. Abre portas inusitadas. Usa imagens tão evocadoras quanto domesticadas são as palavras que a

Valha-me o Chet, ao menos!

Deborah Feingold "Chet Baker - 1977"

Teoremas postos a nu

Desculpa F. Scott...

(...) Germina precisou de horas até chegar a um estado desempenado de repouso. Quando a apanhei, flutuava de costas com os olhos abertos, e as mãos agarradas ao peito, coberta por um manto branco de veludo, gorduroso. Tinha o corpo húmido, e parecia cinquenta anos mais fresca. É o que dá querer agradar às pessoas, em muito boa dicção, pela majestade da grande literatura . – Pensei. – Fiz um estudado juízo, como sempre o fazia em diferentes leituras pelos diferentes ‘clientes’, e por saber-lhe o marido, corajoso – penso eu - bacalhoeiro embarcado na longínqua Terra Nova, julguei inspirada a minha selecção, tentando assim muito impressiona-la de surpresa. Bacalhaus, baleias...fazia tudo parte do mesmo intrépido sangue nacional, mas não foi assim com a Germina. Acabou por ser um retumbante desastre, para ela sobretudo. Em vez de se encantar com a história-maravilha, desmanchou-se toda, ali na minha frente e tê-la-ei enviado mais cedo para o lado dos mistérios. No fundo até lhe ter

Universo de Merda

Sharon, é só para lembrar que o teu assassino, Charles Manson, morreu anteontem com 83 anos e que isso não equilibra nada de nada neste Universo tão aleatório que até enoja. Sharon Tate by Jerry Schatzberg, 1967

O Centro de Todos

Floris Neusüss

Coração de Lã

Foi em Novembro, talvez nos últimos dias quando as coisas começaram a ficar demasiado tristes sem qualquer razão especial. Despiram-se todas as árvores arteriais de uma vez antes, tão cheias de boas memórias sadias. Aqui e ali, desafogado, um longe ou alguma ideia peregrina já esfumada. Está tudo mal por estas amplidões espaciais. Uma crepuscular penumbra permanente de vida abandonada no final da hora ou do dia ou do mês. Foi por esta altura do ano que me ocorreram as modas defuntas que o meu avô usou na mocidade disto recordo-me por uma doce voz julgo que do mesmo coração quente, cansado da viuvez. Fatiga-me o olhar aquele descampado imenso as pernas juntas descosidas no cós e o chapéu abaulado por uma só presilha sem idade. Uma melancolia fotografada por três gerações. Sentirei assim tal lembrança, e com tal afã por almas cativas em retratos e poemas dispersos? Não sei. Foi este mês, quiçá, mês d'acalmia. Não estou bem certo, pela mistura

As Crónicas do Senhor Barbosa IV

O senhor Barbosa p arece que teve uma juventude feliz. Que pena que a felicidade não o acompanhou em anos mais recentes. Quando envelheceu, deixou muito pelo caminho. A felicidade foi uma delas. Ou talvez a inocência. Talvez até tenha sido a inocência o que o fez perder a felicidade. Não sabe muito bem, mas anda a ler sobre o assunto. Também não se importa. Já se habituou a ser mais velho do que as pessoas o imaginam. Tem uma espécie de estratégia absolutamente ineficaz, mas que usa e abusa como se fosse um plano perfeito: afasta-se e deixa todos em paz por algum tempo, e quando acha que passou tempo suficiente e tendo a obrigação de já ter realizado algo que valesse a pena no entretanto, retorna, com ar tímido e curioso de discípulo admirativo, que vem visitar os mestres. Talvez pareça que o senhor  Barbosa  nem sente saudades de ninguém, mas é um equívoco.  Depois de dias cheios de tempo em excesso, logo surgem as suas ideias transformad