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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro 14, 2014

A morte chega no sábado

  O Sétimo Selo (1957) - Ingmar Bergman Com alguma certeza absurda, imagina-se constantemente a morte como um revés, o derradeiro insucesso, nunca a imaginando como a oferenda de um domínio, um último, e talvez o único poder para quem perde a vida: quase um triunfo sobre todas as piores derrotas.

Um café, três cigarros e uma conversa de chacha.

Parece quase como se as nossas referências co muns, se relacionassem mais com eventos que até nunca aconteceram de facto, ou com pessoas que nunca iremos conhecer, do que com outras coisas e pessoas que realmente nos deveriam ser insubstituíveis ao diálogo. Sabemos mais sobre celebridades ou sobre personagens de ficção, do que sobre os nossos vizinhos ou o senhor que nos vende o pão todos os dias. Chamo-lhe a tirania da aceitação. Quando condenamos ou justificamos, não podemos ver com clareza, e também não podemos fazê-lo quando nossa mente está a tagarelar incessantemente; não observamos então o que é; só olhamos nossas próprias "projeções". Temos, cada um de nós, uma imagem do que pensamos ser ou deveríamos ser, e essa imagem, esse retrato, nos impede inteiramente de vermos a nós mesmos como realmente somos. Se desatar p'ráqui a falar sobre a D.Isabel do 2º dir., que é uma criatura adorável asseguro-vos, e me trata como seu terceiro filho, que intere

Piquenas estórias de amore III

Alex Gozblau - "The Lost Motel" - Há-de acabar - deixou escapar - Hmmm... - A doença é uma coisa terrível. Engole-nos. - É? - O que foi? - Não sei como te dizer isto... Ao entrarem no quarto, já com as lágrimas secas e o espírito mais aliviado, começaram a sentir diferenças no seu íntimo. A princípio, não percebiam o que era, apenas sabiam que incomodava. Passado pouco tempo, para onde quer que olhassem, viam a morte. E eis que chega sexta-feira. A manhã avança lenta entre as paredes do quarto e dentro deles uma comitiva de bichos alimentava-se aos ziguezagues. - Chegou finalmente o tempo de te levar muito a sério. Falta-me é a energia. - Só estou à espera que a minha vida comece. - E eu exactamente o contrário. - E se atribuíssemos tudo ao conceito da atração dos opostos? - Fecha as cortinas e volta para a cama querido.

E se o facebook fosse castanho como a merda?

Hoje escreveu-me uma amiga, que, sentindo a minha falta mais assídua, quis saber como eu estava ; se morto, se triste, se tolo, enfim . S orri apenas, como todos os seres que não andam por si mesmos, se tivesse sido um cinzeiro ou uma almofada decorativa a lerem a mensagem, seria igual. Sorri involuntário, só por saber que alguém ainda se importa. A seguir, veio-me tudo ao de cima, estraguei o gesto como habitualmente o faço, e, a não ser que venha a ler este pequeno texto, ela nunca o saberá verdadeiramente, pois decidi não lhe devolver qualquer resposta. Bem, não me vou pôr aqui com mais choraminguices, só escrevo isto porque, no final do e-mail que me enviou, salientou, num post-scriptum exaltado (em letra maiúscula) que me deixasse de tretas e voltasse de uma vez ao Facebook, ao contacto dos amigos - assim me escreveu. Logo se despedi u, prontamente e com um certo carinho. Amigos? Fiquei a pensar nisto longamente.  Depois de quase dois meses de ausência, o que rai
"NUNCA CONHECI QUEM TIVESSE LEVADO PORRADA. TODOS OS MEUS CONHECIDOS TÊM SIDO CAMPEÕES EM TUDO"                  Álvaro de Campos

Eu, pois.

Sou muitas vezes acusado - acusado é capaz de ser muito forte - recordado, de "não ser por nada", de "não prestar apoio" a nada ou a alguém, de não ser o " eu " total que poderia ser, se fosse de outro modo, que não este. - "Por isso estás como estás". - Dizem-me.  Hummm.. como se isto aqui servisse para apoiar o que quer que seja, ou mais ainda, despojar o " eu " de si mesmo.  Por acaso, até nascem naquilo que me aconselham, mesmo que por vezes totalmente impessoais e frias, as melhores passagens daquilo que me dá gozo escrever, pondo de parte todos os nós e os eus ? - Já é algo pelos outros, não será? Semelhantes asserções trazem-me à memória trechos de: " A Crítica da Faculdade de Julgar" do velho Immanuel . Na embriagante lucidez das suas palavras, encontro esconderijos imperfeitos para esta paranóia que me persegue. Um lugar gigante com o tamanho de um livro de bolso, onde repousam tantas respostas. É que,

Qualquer coisa a escorrer por mim abaixo

Não apareço na televisão, na rádio, nos jornais ou nas revistas. Não sou entrevistado por ninguém, não sou acompanhado por ninguém, não conheço ninguém, nem sequer sou convidado a conhecer. Não canto, não finjo, não pinto, não minto, não sei fazer nada com juízo, nem choro mais do que preciso. Sento-me para aqui, a sentir o cabelo, a barba e as unhas a cresceram devagar. O cheiro é insuportável por vezes. Escrevo coisas sobre pessoas e lugares. E depois? - A maior parte delas, sou eu. Reduzi o meu mundo a trinta metros quadrados, dez mil post-its escritos à mão no meu cérebro, transcritos depois para um computador, vinte cigarros diários e um gato. São três da tarde, num dia cinzento, volto a entrar sozinho na minha cabeça, onde vivem todos os companheiros e mundos que crio sem razão aparente. O mundo ou é meu ou é vosso, já não sei bem. O inacreditável explica-me que não pode ser de ambos.