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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro 9, 2018

Música que só me lembra a mim.

Textos Devolvidos V

(...) Aqui em casa há um pátio, cobre-o um verde murcho por todos os lados; heras, madressilvas, pés de feijão-verde e tantos, tantos arbustos, todos secos e mirrados por falta de luz e de água. Pelo meio estão as canas beges e escamadas que o meu pai trouxe de um campo.  Não se alimentam em condições os pobrezinhos, nenhum deles. Ao centro, sobrevivem dois limoeiros, tristemente secos também, despidos de qualquer amarelo. O meu pai pôs dois chapéus gigantes em cima dos limoeiros para eu poder visitar o pátio de vez em quando e observar o vai-e-vem atarantado das formigas. A minha mãe não gostou nada disto. Diz que as árvores não são gente para terem chapéus, que as formigas não são nada tontas e que os meninos como eu, deveriam era ficar dentro dos ninhos, resguardados.  Depois dos limoeiros, e depois do muro, fica a doca do Libânio, que, por ser feita de pedras cinzentas tem sempre luz em abundância.  Tenho tanta pena das pedras. É mesmo uma chatice isto da luz ser quente.

Pompa e circunstância.

Gosto de livros que contenham narradores. Gosto em especial daqueles que invadem os livros a falarem sobre o alfabeto das suas paixões. Afianço: o narrador (Homem) é o centro das coisas. Nas narrativas que lhe estão subordinadas, é ele quem conhece a razão de tudo, mas, o Homem (narrador) nunca se deixa conhecer na totalidade, e, de modo algum, conhece tudo o que há para se conhecer. Tudo isto me veio à memória enquanto ouvia Miles Davis. Residente génio da minha pobre aparelhagem micro, que andou sempre escondido às autoridades, aturdido pelas drogas em excesso e pelas paranóias razoáveis e mesmo assim nunca deixou de ser um génio. Quase um anarquista, que consistentemente escapou à vingança da polícia afascizada. Alimenta-me ainda. Na verdade, tudo isto me veio à memória enquanto ouvia o Miles e me decidi a continuar a escrita do meu último romance impossível de ser publicado por vias normais. (Poderia dizer aqui que é tudo um complot , mas não é, é somente um facto triste d

Dia sim, dia não uma beleza antiga

Yul Brynner

Se eu tocasse no Mundo...

O tornar do passado é sempre um resto, sem história sem letras escritas só ramos nus expostos à luz de dias cinzentos, sem ventos de dança. Contei todas as tuas pestanas coladas à minha memória e deito-me só a chorar sem qualquer pujança. Observo a geografia do corpo do nosso futuro e só vejo vidros partidos ao cair da noite de todos os tormentos. Chorei a noite passada e nem sei porquê. As lágrimas que ontem chorei tornaram-se hoje na chuva da minha história acabada. Quando chegará a palavra da abundância meu amor? Quando ficará por fim ajustada esta ténue lei? Nem sei se escreva mais uns poemas que ninguém lê ou caminhe longe de cabeça alta cheia de dor e com os pés abaixo do sítio onde fiquei a chorar ao mundo por clemência. O fim é tão estranho. Para sempre um nome preso à inconstância do amor. Contei todos os teus olhares bordados em carne e planícies de flores. Depois...por fim chega o abismo sem tamanho e d

A Criança que se Acabou

Tantos anos depois ainda choro demasiado sempre que ouço esta música. "I've watched the children come and go A late, long march into spring I sit and watch those children Jump in the tall grass Leap the sprinkler Walk in the ground Bicycle clothespin spokes The sound, the smell of swingset hands I will try to sing a happy song I'll try and make a happy game to play "Come play with me" I whispered to my newfound friend Tell me what it's like to go outside I've never been Tell me what it's like to just go outside I've never been And I never will I'm not supposed to be like this I'm not supposed to be like this, but it's okay Hey, hey, hey, those kids are looking at me I told my friend myself, those kids are looking at me They're laughing and they're running over here They're laughing and they're running over here What do I do, what should I do? What do I say? What can I say? I said I'm not supposed

A rubrica da Madalena Patusca II

- Isto o quê? - Ficou sem resposta. - Isto é isto e que mais haveria de ser? - Disse-me à saída. - E aquilo não era coisa alguma. Nem dito nem feito. Pareceu-me uma interjeição cheia de palavras. Em outra ocasião fomos jantar fora: " Ao Veneno da Madrugada ", um restaurante cheio de más pretensões mas boas recomendações aqui e ali. Todos os pratos diziam-se com nomes esquisitos, muito embora a comida me parecesse exactamente igual à de outros lados. E todos os empregados arrastavam consigo uma frescura suja deliberada, nas roupas e nos cabelos e barbas. Nos olhos e até no discurso. Como se quisessem parecer ainda mais estranhos que os nomes da comida. Foi ele quem o escolheu. Talvez pensasse que deveria aparentar outra idade e disposição, diferentes daquelas pelas quais me apaixonei. Para me impressionar, de algum modo. Encontrámo-nos ao pé da entrada e tentei abraça-lo, mas já vinha a mexer na memória e só dizia: "Merda, merda...merda", entrámos directos a

Música para escrever livre.

Até a Confiança nos Roubam

É a época de Natal, e neste período, espalha-se uma espécie de vírus que infecta todos com a vontade da dádiva e do proverbial amor ao próximo. Há uma certeza de que as pessoas gostam de dar.  Melhor começar isto de novo...As pessoas de bem, gostam de dar, mas a solidariedade institucionalizada, como a conhecemos hoje, deverá mais ser um valor a subtrair do que a somar às nossas boas intenções. Sabe-se que as mais divertidas histórias sobre altruístas, sobre generosos ou sobre corações moles, são as contadas pelos próprios. A correcção critica sobre esta gente toda anda a exterminar toda uma imaginação potente acerca de um país que é realmente mais bondoso do que parece. Só que, a saúde desta generosidade está de facto nas pessoas comuns, autênticos cavalos de tiro, que só param de dar, um pouco antes de chegarem ao esgotamento. Estes, e jamais os intermediários lambões que duvido quase que passem por ser humanos sequer. Alguns não são mais que cartilagens que se encontram junto