Sentia-se ainda o inexorável fedor a ossos moídos pelo ar, da antiga fábrica de sabão do fim da avenida, que fizera a última barra em Outubro de 1971. A grade era muito velha e estava quase toda coberta de glicínias. A porta, enferrujada, mexia-se à justa com a idade, rangendo. Na escuridão, brilhavam as poças da chuva recente. Via-se um quarto iluminado, mas o silêncio mais correspondia a uma casa sem quartos. Contornaram um jardim abandonado, coberto de mato, por uma viela que ladeava o terreiro lateral, semi-fechado e sustentado por colunas de ferro. Entrariam por aí. A casa era velhíssima, suas janelas davam para o quintal e ainda conservavam as grades coloniais; os grandes ladrilhos do piso eram certamente daquele tempo, pois sentia-se que estavam rachados, gastos ou partidos. Ouviu-se um clarinete: uma frase sem estrutura musical, lânguida, desarticulada e obsessiva. - Bem - disse Xavier -, pelo menos aqui está uma lâmpada. Julguei que nesta casa só haveria iluminação a velas.