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A mostrar mensagens de dezembro 2, 2018

Pensamentos Avulsos XVII

Queixa das Almas Jovens Censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete e uma alma para ir à escola mais um letreiro que promete raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário que tem a forma de uma cidade mais um relógio e um calendário onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim para dar corda à nossa ausência. Dão-nos um prémio de ser assim sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos com as cabeleiras das avós para jamais nos parecermos connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história da nossa história sem enredo e não nos soa na memória outra palavra que o medo. Temos fantasmas tão educados que adormecemos no seu ombro somos vazios despovoados de personagens de assombro. Dão-nos a capa do evangelho e um pacote de tabaco. Dão-nos um pente e um espelho pra pentearmos um macaco. Dão-nos um cravo preso à cabeça e uma cabeça presa à cintura para que o corpo

Esta é a minha Praia

A Capela de N. Srª. da Guia vista da Praia de Azurara - Foto de Pascoal Silva

Até a Morte tem os seus Dias contados

Textos Devolvidos IV

.III O Banquete do Jardineiro Em Junho de oitenta e cinco comecei a trabalhar no "resgate" do jardim da Ermelinda Sameiro e Sá. A sua casa era grande, verde e antiga. Na frente havia um pátio quadrado, quase nu, nas traseiras, aquele jardim de tesouros onde noite e dia corria um rio pelo meio. Foi sobretudo um processo de o habitar... habitar e perceber, mais pressentir talvez, o sentido orgânico de tão grande espaço, de um verde inteiriço cercado por uma orquestra de pequenas cores, de notas altas, aqui e ali.  Mal abri o portão de ferro, baixei-me e levei um torrão de terra à boca, para descobrir-lhe a razão da mortandade. Nessa altura ainda pressentia as coisas pelos sentidos todos, como quem joga xadrez sozinho depois do jantar, só pelo gosto suave de cometer pequenas tolices e não as achar grande coisa. Agora, já não o faço. Já não consigo. Ela tirou-me isso, e depois ainda me dizia: “Ó homem pára de chinfrinar. Que coisa. Tens lá necessidade de estar sempre a

Fim?

Lançamentos do último número (#18) da Revista Flanzine - "FIM" Sábado, 8 de Dezembro, 17h30 - Porto, Gato Vadio Sábado, 15 de Dezembro, 17h00 - Lisboa, Livraria Cotovia É aparecer, que isto é um doce de Natal à vossa espera.

Não foi tão somente...

Os dias percorrem-me as palmas das mãos incendiados de ausência velhos coturnos reutilizados e rasgados na ponta da incerteza. Pálidos, pálidos...de morrer. Os dias ou o dia ou a noite ou os dias ou o dia sempre igual. Trago-os assim, aninhados sonhos de glória a sussurrarem-me pelos elos crucificados da minha espinha. - Aparecer-te-ei no final, dizem-me - e se me fizeres um sinal, ajudar-te-ei a descer. Cães absurdos, ferozes só à distância de perto nem se vêem, são só a minha piada infinita, escrita por um cómico alemão. Fazem-se sobretudo em segredo os meus dias tão lentos em tão rápido mundo lenços brancos nas palmas das mãos a pedir por fim rendição. Por favor quitação, que só tenho é medo  de não ter mais as palavras certas para escrever sobre o amor. Não é tão somente a pele que me vai mordendo o fim profundo sem rumores à vista persisto sim mas sempre a olhar para trás. Á frente fica uma ponte incolor onde cairei de joelhos e

As Crónicas do Senhor Barbosa XV

Exibia-se um filme do Harold Lloyd, o terceiro génio, na sala quase vazia do cineclube. Na primeira fila da plateia, o Senhor Barbosa sentia-se convalescente das suas emoções. Ao seu lado, mão direita pousada sobre a sua esquerda, Madalena ria sem remorso. Ao senti-lo naquele estado de quase descrença, ela desvia a atenção do ecrã por instantes e ao seu ouvido explica-lhe a palavra feliz . O Senhor Barbosa quer acreditar que existe no indivíduo um lugar reservado a isso. Podia entrevê-lo além das imagens saltimbancas do preto-e-branco. Ele também acabou por se rir, e enquanto lhe apertou a mão o coração pareceu todo soltar-se.  - O Harold Lloyd era um génio de facto. Conseguir desapertar-me o coração às escuras não é tarefa de somenos importância.  Ela fechou os olhos em honesta satisfação e apertou-lhe também a mão. De repente, um pequeno burburinho na parte de trás da sala: "Ladrão, ladrão!" - alguém gritava. Logo quase a seguir as imagens da tela empalideceram

O Arquipélago Precioso

No próximo Sábado, dia 8, pela 16h00, em Vila do Conde. Com a auréola que lhe outorga a habitual inquietude, o Helder carregado de pruridos põe-se constantemente a descobrir e a inovar. Ouso quase afirmar que possui um daqueles espíritos indomáveis que só se saciam a experimentar as barreiras. Barreiras essas, que cedo entendeu que nunca poderão ser bem definidas, no que à arte diz respeito. Por norma remete-nos ao incompreensível em um tempo onde só queremos compreender tudo à pressa. Isto diz que, a melhor percepção da obra de um artista é descoberta quase sempre naquilo que não entendemos. E quiçá nunca tenha sido esse o seu grande objectivo, dar-nos lições sobre a sua arte, porém, não restam dúvidas que a sua atitude quase ‘camaleónica’ na relação com a sua arte sempre em modo de descoberta, acaba por nos ensinar muito acerca da própria história da arte em si. Desta feita, o mote do seu mais recente movimento de artífice encaminhou-o para uma área de arquipélagos obs

Dia sim, dia não uma beleza antiga

Joan Blondell