.III O Banquete do Jardineiro Em Junho de oitenta e cinco comecei a trabalhar no "resgate" do jardim da Ermelinda Sameiro e Sá. A sua casa era grande, verde e antiga. Na frente havia um pátio quadrado, quase nu, nas traseiras, aquele jardim de tesouros onde noite e dia corria um rio pelo meio. Foi sobretudo um processo de o habitar... habitar e perceber, mais pressentir talvez, o sentido orgânico de tão grande espaço, de um verde inteiriço cercado por uma orquestra de pequenas cores, de notas altas, aqui e ali. Mal abri o portão de ferro, baixei-me e levei um torrão de terra à boca, para descobrir-lhe a razão da mortandade. Nessa altura ainda pressentia as coisas pelos sentidos todos, como quem joga xadrez sozinho depois do jantar, só pelo gosto suave de cometer pequenas tolices e não as achar grande coisa. Agora, já não o faço. Já não consigo. Ela tirou-me isso, e depois ainda me dizia: “Ó homem pára de chinfrinar. Que coisa. Tens lá necessidade de estar sempre a ...