Há, perto do pilar da ponte, claros sinais de vida. Uma pequena área antes das casas-de-banho públicas, completamente nas sombras. E, quando não há vento, quase sempre se vêem beatas de cigarro e um restolho amerdalhado inexplicável que aqui se acumula há longos anos. Nem as ocasionais cheias o eliminam. É só o processo natural de entropia da ponte. Um dia desabará, corroída pelo fel da passagem. O olhar de Cristóvão pousa no rio, mais escuro que aquela sombra perpétua. Os seus pensamentos e o asfalto lodoso debaixo dos pneus da bicicleta escorrem nesse sentido. Podiam-lhe ter dito o que quer que fosse, que ele ali estaria na mesma, àquela hora, neste lugar. De repente, um peixe: "Que gordo!" - Fala para dentro, como os peixes, se os peixes falassem. - Se os peixes falassem soariam mudos. Exactamente como um mudo quando tenta falar. Claro que tinha razão, percebia-se logo, era-lhe importante saber que havia vida na água, como ele a descer o selim da bicicleta no es...