Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro 17, 2019

Dia sim, dia não uma beleza antiga

Jayne Mansfield

Diz Simão.

Há, perto do pilar da ponte, claros sinais de vida. Uma pequena área antes das casas-de-banho públicas, completamente nas sombras. E, quando não há vento, quase sempre se vêem beatas de cigarro e um restolho amerdalhado inexplicável que aqui se acumula há longos anos. Nem as ocasionais cheias o eliminam. É só o processo natural de entropia da ponte. Um dia desabará, corroída pelo fel da passagem. O olhar de Cristóvão pousa no rio, mais escuro que aquela sombra perpétua. Os seus pensamentos e o asfalto lodoso debaixo dos pneus da bicicleta escorrem nesse sentido. Podiam-lhe ter dito o que quer que fosse, que ele ali estaria na mesma, àquela hora, neste lugar. De repente, um peixe: "Que gordo!" - Fala para dentro, como os peixes, se os peixes falassem. - Se os peixes falassem soariam mudos. Exactamente como um mudo quando tenta falar. Claro que tinha razão, percebia-se logo, era-lhe importante saber que havia vida na água, como ele a descer o selim da bicicleta no es

Censura!!

Pensamentos Avulsos XXII

Só muito tarde pela vida dentro é que me apercebi que não preciso ter o que dizer sobre as coisas todas que passam pela minha vida.  Há uma espécie de desassombro na meia idade que talvez nos faça dizer assim: “Gostei muito, não foi a coisa de que mais gostei na vida mas gostei muito e não sei explicar porquê, ou talvez saiba mas não me apetece encontrar as palavras certas, nem as incertas, e tenho muito jeito para as erradas, então não quero dizer nada, embora gostasse que as pessoas percebessem como é sentir o que eu senti". - E pronto, era só isto. - Um desconserto.

E então?

Miles Davis ,1954, foto de Francis Wolff

Rostos de Pedra

Bukowski entenderia isto.

Noite novamente, nada para dizer,  quiçá compre um planeta ou faça amizade com um diplomata. Limparei o cinzeiro, no mínimo para me lembrar do meu pai.  Primeiro preciso limpar os óculos desta névoa de sempre - já não me dou com as minhas alucinações. Coçar o escroto, beber água para lavar a inutilidade. Um leve toque na porta, entra a gata,  atrás dela vem o resto da noite exigindo colo.  Tempo para outro cigarro e depois deixo as cortinas subidas,  reparo que o lixo faz um carreiro de formiga até ao caixote. Haverá alguma coisa simples que eu possa fazer pelo meu sofá?  Talvez pintá-lo de amarelo  ou instalar-lhe um elevador do chão até ao meu divórcio um bidé gigante para poder tomar banho a dormir. Noite ainda, de que me serve viver se não posso estar vivo no meu próprio inferno?  Esta gota de tempo nos meus olhos não é uma lágrima, mas cuspe cuspo, cuspo e cuspo, continuo sem nada para dizer, como a explosão de uma estrela vermelha na ponta de um cigarro. Sei que se