Gostava apenas de agradecer o tempo que me deram. Foi nisto que pensei a vida toda. Nisto e em juntar dinheiro para um dia ir dar voltas ao mundo, para ver se é verdade o que dizem sobre este ser redondo e cheio de gente que nunca se ri, de mim, só abre os braços gentis e recebe quem vem da inocência de pouco saber. E nem mais nem uma coisa nem outra, porque já ando há alguns anos nauseado por tanta imobilidade com que me vergam os egoístas, os que me permitem morrer. Antes, só vos queria dizer, que me deu para arremessar computadores superpovoados à parede, calhando de ouvir dizer este ou aquele, que só falam lá do alto da vida, mas não têm chão. Gostava que esses soubessem que a vida se faz mesmo é de recortes, e que uns serão de papel, outros são mesmo verdades. Gostava só de agradecer os fins-de-semana, em que conserto os meus sonhos menos resistentes, e em que treino para não ir na conversa de qualquer um e em que esculpo as mãos para o trabalho que aí vem.