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Vila do Conde

para Rui Pedro Tendinha Dormi pouco. Fiz trezentos quilómetros. Julguei ver-te várias vezes no caminho. Encontrei os teus cabelos soltos numa estação de serviço. Ao abrir sem querer o guarda-luvas redescobrirem o teu cheiro. Por duas vezes pensei na tua boca em estado de pura provocação. Eras quase tu e nunca me dizias nada. O cansaço deixa-nos tão vulneráveis. Um bom amigo levou-me para o Norte. Achou por bem que mudasse de paisagem, de companhias. Na noite em que chegámos bebemos tanto, ele ainda mais do que eu. De manhã não se recordava do fim da noite. Perguntou-me várias vezes se não tinha feito nenhuma asneira e não se mostrava tranquilo quando lhe dizia que não. Como se eu não fosse de confiança no que respeita a recordações. Havia um rio, havia rosas. Eu acho que tivemos sorte. O meu amigo só me pedia que não o deixasse sozinho, que tinha medo de não voltar a encontrar o caminho do hotel e no hotel a porta do quarto. Dormi sozinho. Antes ainda li alto uma tradução de

Coisas da mesma amálgama masoquista

Anda um homem, vivo, por pouco ainda vivo e extraordinariamente ainda cheio de vontade, a choramingar constantemente a mesma baba e ranho, lavados a seco para um nada higienizado de absoluto desdém, para depois assistir a isto: o saque do espólio dos mortos, ainda mortos e certamente já sem vontade alguma de publicar seja o que for. - Estão, tipo...mortos! Certo? Mas não, a altura é exacta, é sempre exacta ao ritmo da necessidade dos ganhos possíveis, da família, da editora, do raio que os parta, nunca dos fieis leitores, que esses são carneiros puros com moeda infinita incrustada na lã inocente do bom gosto. E mais, o texto tem de ser alto, levantado, sublime, pois é do Bolaño valha-me deus, um tipo que escrevia bem como o caralho mas que poucos serão os que, com genuína honestidade se chegarão à frente para descrever a emoção orgástica da leitura das duríssimas e dificilíssimas 1063 páginas do seu épico romance " 2666 " - ' A vida humana inteira está dentro destas

O Vasco da Gama a estragar-nos a imagem.

" O vodka usbeque é uma zurrapa do pior mas, caramba, é difícil encontrar melhor desbloqueador de conversas em todo o território da antiga república soviética. Sobretudo por isto: o Usbequistão é um país islâmico. O que quer dizer que quase toda a gente bebe a sua bebida, mas fá-lo mais ou menos às escondidas. Em boa verdade, quando se juntam vários desconhecidos em torno de um copo, é como se estabelecessem logo ali uma cumplicidade de anos. Tornam-se companheiros de disfarce, cooperantes de uma infração irresistível. A primeira pessoa que conheci na Ásia Central foi precisamente um passageiro que cumpria comigo a viagem de Samarcanda para Tashkent. Entre as duas maiores cidades do país – dois oásis no meio do deserto do Karakum, no antigo caminho das caravanas da Rota da Seda – preferimos ambos abandonar o desconforto dos bancos de madeira e rumar à carruagem-bar. Pedimos um vodka cada um. Ele era um tipo alto quando comparado com os seus compatriotas, devia ter um valente

Muda de idade antes de seres velho demais para o conseguires.

Este texto tocou-me realmente. Não se trata de nenhum texto extraordinário, duvido até que alcance o estágio endeusado do "viral" (riso). Tocou-me em sítios que julguei, ou fortemente sedados, ou inexistentes de todo. Depois de o ler, percebi que "esperança", se o quiser, pode muito bem ser mais que uma simples palavra avulsa, que se lança nalguma conversa padronizada de levantamento de espírito. " Quando se muda de vida aos vinte, os outros acham imensa piada. Vão beber uns copos connosco, boa sorte, pá. Até porque, quando se muda de vida aos vinte a coisa normalmente passa por uma viagem, por uma temporada no estrangeiro." (...) " Mas quando se muda de vida aos quarenta, a coisa pia mais fino." (...) " Quando se muda de vida aos quarenta, a viagem é cá dentro. Não, não é dentro de Portugal. É mesmo dentro de nós. Vamos até ao tutano. À massa de que somos feitos. E dói como o raio." (...) " Depois, um dia, os amig