Procuro que o sublime,
jamais nos encontre
ou tenha a audácia de entrar
sozinho, para dentro de mim.
Às vezes, pelo mar dentro entro eu
e levo-te, confiante, só com uma vela na mão.
Tropeçamos nos nossos próprios gigantes
e lá atrás explode-nos inteiro o céu
num refulgente clarão.
Abro uma recta com as pernas a nadar
ao meu lado, lutas contra tudo de que nos despedimos
e ao longe automático, já se reduz
o pó mirabolante destes nossos instantes.
No mar também faz falta uma luz
mas as velas ardem todas até ao fim
e o mar ri-se e todo ele nos envergonha.
Os dias melhores para fugirmos,
passam-se assim, longe de ser esta a nossa cruz.
Nesta praia abandonada
fazem-se desenhos em segredo
a areia, ao amor serve de fronha
a areia, ao amor serve de fronha
e a poesia levanta-se da espuma, por mera devoção.
Aqui nos agarramos com dedos e ilusões
a nada sério que se entenda
são dias a brincar
como a letra trauteada de uma canção.
Fugimos ainda, ensinados pelo medo
Fugimos ainda, ensinados pelo medo
os dias anteriores, caíram tão fora de moda
que ainda há quem os procure
para os meter usados, numa venda.
Os melhores dias destes dias do
tempo do nosso desterro
são coitadinhos, andam contados, andam à roda
e ninguém os quer ver a olho nu.
Nos melhores dias limpámos o chão
nos outros, percebemos o erro
de fugir pelo mar dentro, assim tão mal iluminados.
"Todos os Fogos são Fevereiro"
de fugir pelo mar dentro, assim tão mal iluminados.
"Todos os Fogos são Fevereiro"
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Homem e Mulher - Pablo Picasso |
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