Avançar para o conteúdo principal

A luz surge onde nenhum sol brilha…


A luz surge onde nenhum sol brilha;
Onde nenhum mar se agita, as águas do coração
Fazem avançar as suas marés;
E, fantasmas destruídos com vermes nas suas cabeças,
Esses objectos de luz
Percorrem a carne onde nenhuma carne esconde os ossos.

Uma candeia junto às coxas
Aquece a juventude e a sua semente, queimando a semente da idade;
Onde nenhuma semente cresce,
O fruto do homem mostra o seu vigor nas estrelas,
Brilhante como um figo;
Onde nenhuma cera existe, a vela apenas mostra os seus cabelos.

A manhã surge atrás dos olhos;
E o sangue agita-se como um mar
Da cabeça aos pés;
Sem defesa nem protecção, as nascentes do céu
Irrompem dos seus limites
Ao darem-se conta de um sorriso no óleo das lágrimas.

Como uma lua a noite cerca
Com sua órbita os limites do mundo;
O dia nasce nos ossos;
Onde nenhum frio existe, a tempestade destrói
As roupas do inverno;
E a primavera surge nas pálpebras.

A luz surge em lugares secretos,
Nos limites do pensamento, onde à chuva se sente melhor o seu aroma;
Quando a lógica morre,
O segredo da terra cresce através dos olhos,
E o sangue jorra do sol;
Sobre os campos destruídos, a madrugada detém-se.

Dylan Thomas
"A Mão Ao Assinar Este Papel"
Assírio & Alvim

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012