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A mostrar mensagens de julho 13, 2014

Verão ao alto

Raio de verão este. Não arranjo maneira de bronzear a pila.

Da poesia...

"É verdade que a boa poesia é difícil de escrever. A poesia é a fuga à ansiedade e também origem dela. Globalmente, parece-me que vale a pena. No fim de um poema Podemos ser tentados a tornarmo-nos universais, filosóficos e vagos, Ou a meter a História, ou o Mar, mas não se deve fazê-lo Se se puder evitar,já que isso faz soar Cada coisa que escreve como outra coisa qualquer, E a poesia e a vida são assim. E agora já disse o suficiente." "A Magia dos Números e Outros Poemas" - Kenneth Koch-

Steve "cool" McQueen

A inveja, essa mama flácida.

Se for correcto afirmar-se que a mentira tem perna curta, daquelas de saltos ortopédicos e tudo, então considere-se também a inveja como um perneta gradual, daqueles coitadinhos a quem tiraram talhadas atrás de talhadas de caminho progressista, até lhes restar pouco mais que dores fantasmas de amputados, e não pararem de resmungar impropérios por isso.  A inveja transforma-nos em pequenos bufarinheiros de meia-tijela, alcoviteiros de tasco que tudo alvitram em arrojos opiniativos, mas, sem qualquer pujança de conteúdo no discurso. A inveja arreia em nós com tal força, que chega-se a sentir dores menstruais por cada petarda mal dirigida que enjeitamos. Combate-la torna-se um exercício fútil, somos seus escravos involuntários. Incapazes de suster o desgosto pelo bem alheio, parecemos cigarras indolentes nas suas mãos, ainda que suemos como verdadeiras formigas. É o raio de um peito flácido de intenções. Sim. Definitivamente, é uma daquelas tetas, onde ninguém haveria de querer mam

Toma lá, dá cá.

"- Então, já não vais a lançamentos de livros e inaugurações de exposições? - Ainda vou, mas menos! - Pois, então admira-te de quando lançares um livro teu ou fizeres uma exposição não aparecer ninguém! - Não faz mal, de qualquer maneira não apareceria ninguém! - Como sabes? Consegues ler o futuro? - Não, mas consigo ler o presente..." Retirado à socapa do mural de José Alex Gandum ( amigo do facebook )

O escritor contrariado.

Eu era novo e só pensava nas coisas como um velho. Olhava pela janela e atirava migalhas imaginárias aos pombos com os olhos. A Praça da Cidade antiga movia-se com a precisão de um relógio. Uma quantidade astronómica de pessoas desfilava lá em baixo, em círculos aparentemente aleatórios, debicando com os pés, cada paralelo, cada laje de granito da beirada da rua que guardei de memória, marcando a cada passada silenciosa e a cada encontrão respeitoso um compasso raivoso, competitivo. Defronte, os arcos de pedra, indolentes, choravam desgaste por cada nova foto que lhes roubavam. Era inescapável. Mesmo fechada, estores corridos, olhos tapados, cortinas encerradas, a janela da frente queria-me mostrar tudo, e eu queria ver também. Tudo. Tinha o meu mundo inteiro na cabeça, dois ou três pontos de terra que conhecia bem de alguns livros que ensimesmei, tudo antes do medo, um troço de relva cagada pelos cães dos vizinhos, sete lojas abertas e sem ninguém, quatro pesso

Isto é um circo senhores!

Parecemos todos convictos de que o desequilíbrio do mundo tem muito a ver com o nosso próprio desequilíbrio. Não senhor! Isto é uma treta muito grande. O mundo está tão equilibrado como sempre esteve. Divisões bem esclarecidas, todos nos seus devidos estratos e um manancial de pobres a nascer todos os dias para engrossarem as devidas fileiras dos rejeitados. Está tudo aberto à grande bicharada. E não é isso mesmo? Somos todos uns bichos quaisquer, que devem a sua miserável existência à tirania de homens que, preguiçosos e incompetentes, usufruem do nosso trabalho , somos vítimas de uma exploração prepotente, e assim vivemos, cabisbaixos e castrados de vontades. E neste sentido, ninguém leva tão longe o desprezo pelo corpo como o intelectual de hoje, reflectindo-se a sua própria decadência física em quase tudo aquilo que produz, e por consequência, no pensamento moderno.  Salvo rarissímas excepções, continuámos a ser meras bestas de carga, sem grande ideias.

E o burro sou eu?

Pesam-me sempre mais as questões que são do foro daquilo que não compreendo, já desde pequenino que sou assim. Ele é a razão de ser do Facebook, a dominância mundial alemã, a coerência das tribos modernas ou os genocídios. Havia de ter vários graus de incompreensão interior, para não misturar águas pesadas com outros ares mais leves, todavia, cá por dentro, o rebuliço é igual. Os mais chegados, dizem-me que isto é sinal de inteligência cognitiva, o meu pathos . Estou inclinado a concordar. Apesar de nunca procurar o pragmatismo concreto (nunca tive queda para os números) padeço desta insistente mobilidade interior de querer saber o que ainda não percebo, o que é novo.  Outros, remetem-me uma explicação muito mais simples e mundana, do tipo: "és mas é um chato do caraças! cala-te." - O que também tem a sua ponta de verdade, pois inclui-se no mesmo absurdo da minha paixão ser assim. E também, porque a grande maioria das coisas que eu ainda não percebo, conquanto vasta e q

The Queen is alive.

A lei das leis

Das leis já inventadas, dóiem-me todas, mas a que mais me degenera é a da oferta e da procura. Quebra-me ao meio a auto-determinação, de continuar ileso na correia maravilhosa da livre circulação. Até entendo as leis da atração, e o cinto castrador da gravidade. Pouco sei sobre termodinâmica, é certo, mas, sinto-lhe o calor, a pressão individual e o conforto da barriga que se me avoluma. Ocasionalmente, até cuspo na verdade, mas isso é só porque nasci gente  e o homem é um bicho que nunca se acostuma, a ser um trapo, um recado, ou uma peça vendida. sem razões, faz e destrói todas as leis; uma a uma. e depois chora sozinho, pela ferida auto-inflingida. Deixei de ter emprego e fiz as pazes com as leis do trabalho. Todo o caminho ao contrário só me fez ganhar tempo. Deixei de ter dinheiro e fiquei nu e limpo. A isto chamo as leis da liberdade, que pouco ou nada tem a ver com a vida. As leis da vida. Ah, as leis da vida! Nem são pr'aqui chamadas.

Agora lês-me, agora já não me lês.

Não gosto que me vejam a ler, agora assim de repente, julgo até que nem gosto que saibam que eu leio. Prefiro que me imaginem analfabeto, velhaco e estúpido. Até estimulo a noção de ser uma mente romba, quase obtusa. Torna tudo tão mais cómodo para mim. Imaginarem-nos simplórios é um descanso. Nuns quantos vazios à minha volta construo maciços com os livros que ainda guardo, os mais fortes, onde depois levanto o que me diz mais. E ninguém tem nada a haver com isto. Gosto de ler, e creio ser tão desnecessário explicá-lo como tentar demonstrar porquê que não gosto que me vejam a ler. Apetece-me que seja uma coisa só minha, íntima e preciosa, livre de justificações a terceiros, longe dos olhos cheios de juízos das multidões. É uma masturbação do intelecto, e estas massagens necessitam de paz e solitude. Esta maravilhosa clausura, concede-me um acesso privilegiado a tantos mundos, que posso guardar à minha maneira, sem chamar a atenção para o que é óbvio. Poucas coisas são a