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Saudades de ver bons filmes (XXII)

 .    ..Absolutamente perfeitos!


Isto porque, Wes Anderson vem depurando a sua infindável capacidade de contar histórias díspares e de as filmar de um modo que é absolutamente impossível de lhes ficar indiferente. 
O seu último projecto: "The French Dispatch", é pouco mais do que aquilo que fazer bom cinema havia sempre de ser. 
Nele, Anderson conta-nos as visões de diferentes escritores de uma imaginária, mas grandiosa gazeta literária, de todos os modos impossível de ser em um país moribundo onde o seu centro (Kansas) se desmorona paulatinamente pela desgraça da estupidez humana, contagiando todos os seus territórios adjacentes e pervasivos. No processo imaginário criativo, saímos desse 'corpo pútrido' e somos atirados a uma 'Paris' condicional, que se denomina por "Ennui" - livremente traduzida como sendo: " Um sentimento de aborrecimento profundo e de se estar mentalmente cansado por não haver nada mais que nos interesse ou excite." - Mas há! Há Wes Anderson e a sua cabeça fora do lugar.
Ele consegue a ponte difícil entre essa morte do espírito americano e o desejo de que tudo aquilo que o motiva jamais morra. O mote do enredo circula por temas tão diversos e abrangentes que é um jogo de atenção. Adicionado a isto, ou por amor a isto, entra toda uma casta miríada de (bons) actores que se entregam à sua visão (alguns, muitos deles, repetentes) porque um filme do Wes Anderson é um acontecimento onde apetece estar.
A receita assim se completa formando a sua cinematografia futura, como debalde e consistentemente o vem fazendo desde 2001, "The Royal Tenenbaums", começou este processo de parcerias duradouras que fazem o cinema Anderson.
Em "The French Dispatch" Wes Anderson prossegue o seu maravilhoso cinema iconoclasta, a sua devotada entrega ao texto filmado como é escrito, em vez da película que circunda um universo proposto pelos senhores que pagam.
Há tanto para se descobrir no cinema feito por este senhor. É como se participássemos em um desse cursos que pretendem ensinar-nos a sermos. Só que, no caso da 'escola' do Wes Anderson, não há pretensões implícitas e só não aprendemos se não quisermos, porque está tudo lá, explicado, tudo, mas mesmo tudo.

Léa Seydoux




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