No próximo Sábado, dia 8, pela 16h00, em Vila do Conde.
Com a auréola que lhe outorga a habitual inquietude, o Helder carregado de pruridos põe-se constantemente a descobrir e a inovar. Ouso quase afirmar que possui um daqueles espíritos indomáveis que só se saciam a experimentar as barreiras. Barreiras essas, que cedo entendeu que nunca poderão ser bem definidas, no que à arte diz respeito. Por norma remete-nos ao incompreensível em um tempo onde só queremos compreender tudo à pressa. Isto diz que, a melhor percepção da obra de um artista é descoberta quase sempre naquilo que não entendemos. E quiçá nunca tenha sido esse o seu grande objectivo, dar-nos lições sobre a sua arte, porém, não restam dúvidas que a sua atitude quase ‘camaleónica’ na relação com a sua arte sempre em modo de descoberta, acaba por nos ensinar muito acerca da própria história da arte em si.
Desta feita, o mote do seu mais recente movimento de artífice encaminhou-o para uma área de arquipélagos obscuros e desconhecidos, de pequenos poços de fogo, e rios densos e opacos nascidos do proverbial cadinho de onde toda a criatividade emerge. Neste novo mundo, depressa investiu e praticou até o dominar: a joalharia.
Esta nova jornada nada tem de ambivalente em relação ao seu trabalho artístico anterior, muito pelo contrário, é sobretudo uma abertura estética que complementa e amplia o seu já vasto acervo de pintura.
O zelo com que se entregou a esta nova aventura, transborda a bidimensionalidade de alguns apontamentos muito específicos de trabalhos seus anteriores. Nomeadamente as cruzes e os cristos, a sua visão da sacralidade, quase a sua penitência, que ganha um outro fôlego, pulsa em metais preciosos perante o nosso olhar ou nas nossas mãos.
Quem lhe acompanha o percurso, quase que lhe imagina as linhas condutoras nas ideias; primeiro desenham-se cruzes singelas, aqui trabalham-se as cores sacrílegas dos cristos que a estas se agarram, e por fim, saltam ambos fora da tela, das cores e das linhas, materializando-se em relevo de prata e ouro.
O mais interessante desta sua nova exposição, talvez venha a ser a perfeita intercomunicação entre os seus trabalhos anteriores (pintura) e estes, de joalharia. Não é passível de contemplar um sem se imaginar o outro, tal é a sua simbiose.
Suponho que a melhor forma de se encontrar uma saída à via morta da repetição é a mudança, é quase uma lei não escrita, e foi exactamente isto que o Helder fez. Sem se desequilibrar dos seus temas de eleição, transportou-os para uma outra estrutura artística, aplicando-lhe os mesmos princípios sistemáticos da sua técnica e estilo próprios.
Mostrando ser um apologista incansável das ‘zonas de conforto’, que em tantos instantes da longa história das artes remeteu muitos para o auto-eclipse, gerando-lhes perdas na criatividade, continua a demonstrar a solidez das suas convicções, perante a temerosa reserva do fracasso, faz prova de que a inovação é quase sempre o golpe certeiro, de génio ou não, isso só o tempo dirá, que sustenta a carreira de um artista sem o esgotar a ele, ou a nós, que o apreciamos no seu melhor.
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