Avançar para o conteúdo principal

Saudade de ver bons Filmes (XII)


Chegou por fim às salas de cinema, o muito aguardado (por mim pelo menos) "England is Mine", o filme que retrata a vida do icónico Morrissey, durante o período dos seus primeiros anos em Manchester, antes de vir a tornar-se o seminal vocalista e letrista dos "Smiths".


Produzido por Orian Williams, o mesmo senhor que nos apresentou "Control"- 2007 realizado por  Anton Corbijn, que brilhantemente nos explana a omnipresente obscuridade e queda de Ian Curtis, o saudoso vocalista da banda "Joy Divison", que se suicidou a meio dos seus vinte anos. "England is Mine", tenta repetir o mesmo feito, aplicando  igual fórmula a Morrissey, e, ainda que o cartaz promocional diga: "Captura perfeitamente o enigma por trás de Morrissey, o maior ícone da música Indie", o filme decepciona imenso fãs e curiosos por igual, pois sendo fiel à absoluta realidade do seu tempo de então, apresenta um Steven Patrick Morrissey, longe de se cumprir como a figura intemporal e conforme o modelo daquilo que viria a alcançar e ser, desde os primórdios dos anos 80 até hoje. Convêm ressalvar que este filme não é uma apreciação de fundo da formação e tribulações da banda "The Smiths", mas sim uma película focada no seu co-líder e vocalista, e infelizmente, apesar da intenção ser a de apresentar o que futuro lhe traria, nem mais ou menos nos aquece nessa direcção. Talvez "Control" tenha resultado porque Ian Curtis se suicidou e Morrissey continua bem vivo e a lançar novos discos. Talvez fosse supérfluo ou mesmo desnecessário fazer-se um filme verdadeiro sobre os primeiros anos deste segundo. Certas coisas ficam melhor se deixadas quietas. No fundo, mostra-nos um Morrissey banal, por vezes a raiar o irritante, mesmo quase frustrado com o mundo que o rodeia. Ok. Não há nada de mal nisto. Muitos bons artistas se frustraram ao ponto da desistência, antes de encontrarem o seu caminho e singrarem para a eternidade. E até acredito que Jack Lowden (sim, é o mesmo rapaz de Dunkirk) fez o seu melhor para retratar o sorumbático Morrissey, o insatisfeito, o sexualmente confuso, o quase distópico Morrissey a trabalhar em uma repartição, atirado à música para desbravamento das suas mais profundas frustrações. Certo. Fez tudo muito bem, e o filme biográfico que é, cumpre os requisitos básicos do género, mas, seria isto que esperávamos? Era este filme que o Morrissey, ou mais grandiloquente mereceriam os "Smiths"? Na minha perspectiva, não. É mais um documento de identidade que um filme. E para saber sobre a juventude do Morrissey poderia ir ao Youtube ver. Não era preciso terem desperdiçado tanto dinheiro a fazerem tal filme. Eu, como fã inveterado da banda e dele também, do próprio Morrissey, não estou minimamente interessado em saber sobre o que já imaginava. Queria era ser assoberbado e não me aconteceu quando vi o filme. Mais fiquei a ver este pequeno vídeo. E isto diz páginas e páginas sobre "England is Mine".


Cresci com os "Smiths", com o Morrissey a cantar letras perfeitas e o Johnny Marr a tocar aquela guitarra magnifica, cheia de contornos impossíveis e transcendentes. Esperava muito mais de um filme que trazia a emoção dos "Smiths" de retorno e falhou em cumpri-la. E é isto.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012