Hoje em dia morre-se ao desbarato. - Quase parece o argumento daquele novo filme do Seth McFarlane, ou a brejeirice de um certo programa do canal Odisseia. Morre-se! Morre-se por tudo e por nada. É daquelas constatações fáceis de se fazer, não custa nada escrever isto - é quase tão fácil como matar, pois ultimamente, vê-se gente a morrer daquela mesma forma primordial de medo insensato, como se mata uma aranha que sobe sossegada pela cortina do chuveiro. Um golpe certeiro de uma revista enrolada e já está. Morta. Ufa... Por vezes, se tivermos sorte, até nem morre de imediato, e podemos apreciar o seu estrebuchar lancinante, - isso é que é - até aquele momento final. Isso até é do melhor que se pode esperar de um tempo básico de total brevidade de tudo, seja o que for. A rapidez do tempo até quase nos afasta a morte da memória, Quase. Nenhum canal de televisão nos mostra isto, o que acho de uma grande injustiça moral. O ser humano gosta da morte, mesmo que nunca o reconheça, pára ou abranda os carros nas estradas perante um acidente, é o mínimo que consegue perante uma imagem gratuita da morte, possível ou não, ele abranda e faz figas com todos os dedos mesmo que feche os olhos. Está-nos impregando no código genético. Se somos seres finitos, mas também, muito, muito competitivos, gostámos sempre de ver outros a picarem o cartão antes de nós, não é?
Até achámos que existem demasiados chineses, indianos, polinésios, malaios e africanos e outros povos que nem aparentem qualquer semelhança caucasiana, a consumirem oxigénio neste planeta, e todas as tragédias naturais que lhes sucedam, e que aconteçam à distância de mais de quinhentas léguas marítimas, nos parecem exactamente assim, naturais. Coitados! Mas já se sabe. Era de se esperar. Só é de lastimar os pobres turistas no local errado na altura errada. O impossível.
Fomos sempre assassinos, como não o haveríamos de ser? Fomos criados para ser vítimas. Qualquer bicho maior que um rato nos aterrorizava, e por isso tivemos de desenvolver aquilo que mais falta nos faz nos dias de hoje: a inteligência!
O estranho é que de pouco nos vale à mesma. Desenvolvemos um cérebro enorme para depois o dividirmos em dois hemisférios: esquerdo e direito, e nos tornarmos reféns das emoções mais básicas. Inteligência? Bah! Milhões de anos de evolução, e continuámos mais bichos que os bichos. Matámos indiscriminadamente todos os diferentes, todos os insatisfeitos, toda proximidade daqueles que realmente nenhum mal nos fazem, excepto serem menos ou menores? ou simplesmente não serem nós.
Na verdade, nunca saímos daquela caverna ancestral. Continuámos em redor da fogueira a congeminar planos para suplantar a outra tribo que mata mais mamutes do que nós, ou até pior, involuímos para um tipo de mentalidade, em que a luta genética deixou de importar, e tudo agora se resume a uma atroz bestialidade sem sentido. Parece-me a mim que a humanidade caminha para a sua própria extinção. E, não será uma catástrofe natural a eliminarmo-nos da liderança deste mundo, não será uma outra explosão evolutiva de outra espécie, nem tampouco será um apocalipse viral incontrolável. Será única e exclusivamente, a nossa própria arrogância racial. Desapareceremos por mera estupidez.
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