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O dilema daquele talento que nos faz.

 

Tenho algum azedume em mim, tenho. Sou um corpo só feito de cogumelos a fruirem a podridão de imensas frustrações irresolvidas, ainda que encimado por um cérebro intacto, quase bonito, quase genial, mas, além disso, "Eu não sei se algum dia eu vou mudar", mas sei que a nova geração de cantores/músicos/cantautores tugas, arranjou a perfeita fórmula para levantar vôo deste marasmo asfixiante que o panorama artístico português nos tolhe à nascença.

Eu não quis nascer nesta sobra de mim.

Porém, muitos quiseram e fizeram-no. Há uma geração inteira de músicos, músicos digo com saliva colada ao céu da boca, porque isto está mais gritantemente exposto nesta álea criativa, todavia não lhe seja exclusiva, e explora um filão que me engasga a boca de vómito pelos ouvidos. Estes artistas, ou alguém por eles, descobriram que se convidassem outrém de bom talento, ou melhor, de talento apenas, para cantarem ao seu lado, poderiam aspirar a algum sucesso.

Deu, dá resultado!

Assim que assistimos a um rol quase interminável de duetos, participações especiais, fulano figurando sicrano, orgias de vozes e por aí fora. É um fartote de sucessos que colhe pouca gratidão pelos "talentos" reais, que se atiram a este abismo com a única intenção de recolher um cheque. No entanto, é preciso também afirmar que muitas destas canções são realmente boas. O problema é que aparece o nome de um fulano qualquer na capa do single ou do EP, e muitas vezes é o beltrano ou a equipa de produção deste que nos remete aquela pequena pérola cá para fora.

Logo, o "fulano" deste "esquema", é somente um ôco veículo daquela maravilha que dali saiu. Cria-se uma sentinela que os reúne e colhe louros, ganha dinheiro, faz sucessos imediatos em registo formulaico. Fazer música em Portugal, fazer arte, qualquer arte, é difícil, assim que soluções necessitam-se! - Nada de espinhos! - Muitos destes "fulanos" comprovaram o sucesso inicial, sozinhos, assistiram ao que se faz bem e continuaram a fazê-lo igual. Persistiram. É um bom passo para o futuro. 

Este texto não é um 'deita baixo'. ok?

É necessário expor o que nunca pode cegar. Uns singram outros não. Uns munem-se dos 'agentes' que lhes mostram os caminhos onde se querem crescer. Outros não querem cantar letras de cor e morrem ao centésimo dia de nulidade. 

O dilema aqui é até muito simples; estar só ou em equipa. Qual é a cama onde te queres deitar?




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