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Textos Devolvidos V

  

Após ter lido o patético, ego-absorvido, multi-divulgado, tão imensamente descarado, tão pulhamente marketizado, grandemente apoiado pelo sistema editorial podre que persiste neste nosso país, do 'post' do Afonso Reis Cabral, sobre a sua experiência ao ser linearmente recusado por uma editora americana de renome, senti uma saída impetuosa de vómito a emergir-me da boca calada por tanto tempo.

Já não me senti capaz desta mudez persistente. 

De que espécie de gente é que realmente se constituí o edifício editorial deste Portugal? Quais são os seus arquitectos e, identificados, porquê que o caminho da prostituição lhes pareceu tão apelativo quanto aparentam? - Foda-se! - Eu sei, toda a gente sabe, que o indivíduo em questão, é bisneto ou tetraneto ou o caralho que o foda do enorme Eça de Queiróz. Movido por essa gesta familiar escreveu umas coisas. Foi galardoado, óbvio! Quem é que acham que este pântano de gente vai admirar? Um filho de um alfaiate que ama escrever, mas que insiste em não compactuar com nada do que se estabeleceu como regra para a formação de uma estrela literária nesta terra?

Não! Claro que não.

É uma pústula, meus amigos. Uma entre tantas que constituem a 'peste negra' que se chama mercado editorial português. Rebentam aqui e ali. Libertam o seu pus e o público bebe-o como se fosse hidromel. Fazem-no porque tudo é um endosso. Não há mais genialidade em lado algum, só favores. Constroem-se figuras imortais através de jogadas de publicidade. Nascem festivais literários como se fossem míscaros, apenas para deambularem estas 'criaturas', estes 'frankensteins' de algibeira que um grupo anódino de escravos em uma cave qualquer de um grande conglomerado editorial fez serviço ao elevá-los àquilo que à editora em questão poderia fazer dinheiro.

É pô-los nos supermercados e nos postos dos CTT. É leva-los às TV's e aos recônditos profundos da degradação exposta. - Eu sei. Em tempos aparecei em uma entrevista forjada, em um canal digital de inexistência contínua, apenas pela quantidade de lá estar. Senti a roupa ensopada de bílis no decorrer na primeira questão. Como se tivesse um espeto de carne a violar-me a integridade singela da minha existência como escritor. - Fi-lo mesmo assim, pois convenci-me, na altura, de que este era um caminho possível para ser conhecido, famoso. - Como me enganei. Mas, não mais, após isso. Sei bem que a carne deste mercado está tão rançosa que só pela magia do marketing alguém a devorará. Percebo isso e vejo o quanto essa 'carne é devorada', quão depravada é essa orgia de vontades manipuladas. Sei tudo isto e ainda assim desejo-a.

Sou fraco.

Quero ser publicado, quero ser amado, quero que me leiam. A minha vida entrelaçou-se neste festival de horrores e desde aí que não consigo manter uma relação normal com ninguém. Ando à deriva, aguardando a altura providencial em que alguém principie a beber a minha bílis, o meu vómito, as excrescências deste pus que, para já, só evidencio neste textos invejosos que escrevo aqui.

Sinto saudades de ser eu!



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