Avançar para o conteúdo principal

Poema em 3

 

Novas entrevistas ao fim do mundo,

tentei andar na corda-bamba, só vi pulhas de circunstância,

caí, ou empurraram-me até ao fio perdida da meda.

Nenhum Bruto ou Cássio me enfiou um ferro tão fundo,

como a adaga feroz da alcoolizada demência.

A História fez de conta que nem me viu no largo literário da alameda,

caducas entrevistas de um velho mundo.

Prostitutas, ratos gordos, cús de sem-abrigo. Lembro-me de quando havia distância,

sem GPS. Era livre e bom, e cheirava bem. Também nos perdíamos, mas era uma merda!

A música soava baça, a carne apodrecia no sexo e nenhum sabor sabia ser assim tão profundo.

Sonhei que fodi a rainha celta Bodacia, à revelia da vossa ignorância.

Novas viagens ao fim de onde sou oriundo.

Que merda de poema este, parece uma ambulância...

circula rápido sem levar vida ao quase morto que hospeda.

Ontem acordei de pau feito, mas furibundo,

o céu clareava no horizonte na antecedência,

de mais um dia que me degreda.

O que se passa, estou vivo, morto ou moribundo?

Depois da passagem do meio-século cedi à evidência,

que tudo, quase tudo, é só uma perda!


in: "Uma Velha de Amarelo a empurrar um carrinho de compras"

                                                    2022



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...