Aqui estou no pouco esplendor que expresso. A tornar-me mais e mais fraco à medida que envelheço e perco a parca noção de humanidade que um dia posso ter tido.
Só antecipo resultados finais de má sorte. Dor, doenças malignas de inescrutáveis resultados, possibilidades de incontáveis suicídios sem paixão, paragens cardíacas no galgar das escadarias de S. Francisco. Atropelamentos fatais nas intersecções de estradas mal frequentadas. Facadas insuspeitas pelas noites simples de uma pacata Vila do Conde.
Ontem quis ir à médica de família, talvez me pudesse passar algum veredicto. Não fui capaz. Não admito os médicos e as suas tretas 'new age'. Há menos de meio-século atrás, esta mesma inteira profissão fumava nos consultórios e pouco ou nada dizia sobre pulmões moribundos. A casa na praia valia mais que o prognóstico verdadeiro impedido.
Aqui estou, contudo. Ainda aqui estou. Trapos e lixo vivem melhor as suas existências que eu. Escrevo isto, bebo, escrevo, mais três cigarros. Que me importa o corpo finito, a cabeça funciona ao ponto de se perceber a caminho do fim. E, convenhamos, um corpo que só consegue dirigir sangue à vez ou para o pênis ou para o cérebro, talvez nem importe de todo como coisa a manter-se.
Um dia estarei morto e tudo isto será uma brisa de oportunidade. Irá se dissipar tão rapidamente que ninguém terá tempo para reconhecer sequer que existiu. Somos isto; miragens, ventos cálidos pelo deserto fora, um minuto quentes, no outro frios, frios como a morte que sempre nos perseguiu.
Busca-a? Busco a morte? Não! Não activamente, pelo menos. Três vezes tentei-a e falhei sempre. Já não quero morrer pelas minhas mãos. So preciso que a morte me venha buscar sem demora, porque isto tudo aqui, esta coisa de viver assim, é bem pior. Não fui talhado para viver. Tenho demasiada escuridão nos olhos, excesso de terror às pessoas normais. Possuo uma vontade inabalável de fazer o que não me permitem e isso mata-me mais que a própria morte real.
Então, quando?
Quando fores, leva me por favor. Sempre tivemos a mesma vontade de morrer por não trabalharmos no que gostamos. Mas pénis não leva acento de circunflexo.
ResponderEliminar