Avançar para o conteúdo principal

26

 


Os que trabalharam no dia a seguir à revolução também foram patriotas. Há demasiados feriados neste país. Demasiadas 'pontes', dias santos, concedidos e afins. O excesso de nada se fazer cria cidadãos que exigem ainda mais displicência, mais opacidade de visão face ao avanço necessário da edificação desta nação tão maltratada pela perspectiva externa. Pois o desinteresse só produz mais insipidez.

Não são os dias de ócio pré-estabelecidos que nos fazem melhores, são as conquistas que se fazem, trabalhando, para conseguirmos um horário laboral que nos permita, consequentemente, usufruir desse tempo livre que todos merecemos e necessitamos, de uma forma que mantenha o país são, funcional e competitivo. 

Portugal, durante o período negro da 'crise' financeira 2008/11, chegou a ocupar o 9º lugar no ranking de países com menos feriados no mundo. Na parte superior desta lista, estava o México, com apenas sete feriados. Hungria, Reino Unido e a Holanda com menos dias de folga, com apenas oito feriados cada um. Esta estatística, supostamente, revelaria os países, (dentre 64 países estudados), mais ou menos produtivos. Uma nação com muitos feriados, e na estrutura da sondagem nem foram considerados os feriados municipais, ou estaduais (como é o caso do Brasil ou dos E.U.A.), apenas e só seria considerada mais ou menos produtiva.

Só que, esta estatística é tudo menos exacta nos dados. Na verdade, o número concreto de dias de lazer que um país concede aos seus cidadãos, não consegue definir de todo a filosofia de produtividade do mesmo.

Países como o Japão e a Finlândia ocuparam a 3ª posição deste 'ranking', cada um com 15 feriados. E, contudo falamos de dois dos países mais ricos e produtivos do mundo. O México, como anteriormente referido, só concede 7 dias, e convenhamos, não me parece que seja nenhum gigante económico.

Então, qual será a fórmula nesta perspectiva?

Aos Espanhóis foi-lhes concedida a 'siesta' como necessidade orgânica de um povo reduzir e apaziguar o nível de stress de modo a conseguir atingir metas de maior produtividade nas horas de trabalho efectivo. A Islândia criou uma outra experiência, ainda mais radical, de redução da carga horária laboral para quatro dias semanais, com um fim-de-semana de 3 dias, sem reduzir salários. 86% da população insere-se neste projecto. É certo que esta medida não teve grande impacto na produtividade, mas certamente lhes aumentou a qualidade de vida. Quiçá, a longo prazo, essa influência no acréscimo do bem-estar da mão-de-obra, possa muita bem fomentar uma vigência de dedicação à constante necessidade de aumento de produtividade competitiva.

Pode também resultar no seu dramático oposto. É bem possível. Não há exactidões, apenas experimentações. Contudo, todos os modelos (brutalmente ultrapassados), de exploração exaustiva da força laboral de um país, há muito que estão datados à extinção. É uma tragédia para todos que alguns ainda insistam em acreditar que este continua a ser o modelo a seguir. O trabalho tolhe. Qualquer trabalho, uns mais que outros é certo, mas a exigência em prosseguir uma filosofia tratante de ditadura, só resulta em crasso falhanço a médio, longo prazo. Ninguém aguenta!

Veja-se a China, por exemplo, uma das economias mais poderosas do mundo neste momento. Porém, com uma taxa de suicídios mais elevada, e por muito, de quase todos os países do mundo. Esta força laboral não existe para fomentar o país, existe, até onde pode, para se fomentar a si mesma, e depois, inevitavelmente desaba, auto-destrói-se. Este modelo já não é sustentável. Ainda pior acontece, nos países árabes das ricas economias baseadas no petróleo do Golfo Pérsico. A população em si, não trabalha, recruta escravos de outras nações mais pobres para executarem os trabalhos que ninguém ali quer fazer. É outro modelo que não só é finito, mas também bruto e extremo.

Agora, veja-se Portugal!

Mantivemos uma política quase medieval de exploração laboral justo até ao dia 25 de Abril de 1974, e ademais. E ademais, porque na realidade o que se ajustou foram os moldes de como a exploração se efectivava, sem que esta realmente se obliterasse. Conquistámos tanto e mesmo assim continuámos tão retrógrados. Onde foi que falhamos? Demos demasiados feriados? teremos sido excessivos nas oferendas dos dias de ócio? A população insiste em exigir mais e mais...como se Abril fosse uma 'carta está livre da prisão' que nos outorgasse todos os perdões sem restituir qualquer dignidade ou umbridade para efectivamente levantar o país dessa podridão.

O que queremos afinal? Liberdade ou ócio despretensioso, sem consequências? Do que precisámos, de um país forte ou de nação liberta do mofo da opressão? É que por vezes a mente confunde-se e o que parece opressão não passa de oportunidades. Para conseguirmos o índice de felicidade que sentimos merecer, necessitamos de fazer algo por isso. E, 'por isso' é pelo país, por todos, por nós e pelos outros como nós e até pelos outros que não são como nós. Não mais a fórmula do 'Chega' ou do 'BE', não mais extremos que só intuem demagogia a quem pensa a sério. Não ao marasmo hipnotizante do bloco central (PS e PSD) que insistem em modelos obsoletos. A população precisa da liberdade do dia 26 de Abril, posta realmente em pressupostos que sejam reais.

Menos feriados, menos controle, mais liberdade, qualidade de vida. Alcançadas estas fasquias o povo compreenderá e fará Portugal grande novamente.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

O Incidente de Plutão (Parte II)

Continuação... Xavier sonhara o corpo de uma loura por semanas, nos intervalos em que se convencia a si mesmo que a amava porque sim. Mas que desacato. Não tinha heroísmos em part-time para dar a ninguém e por isso se pusera a fazer teatro no fim do trabalho como forma de não se maçar a si mesmo. Era um salto à vara espantoso, se de tantos lados que procurou socorro, este lhe chegasse através desta mulher. Doroteia, vista pelos seus olhos era a mulher mais bonita da cidade, e ai de quem o  contradissesse. Não era que o dissesse a ninguém, de todos os modos só se queria deitar com ela e deixar-se adormecer ao seu lado como uma fera amansada. Era tudo matéria de sonhos. - E o que foi que tiveste de fazer pelo teu pai? - Arriscou a pergunta. Não foi pronta a sua resposta, apesar de se perceber na comissura dos seus lábios os indícios de um longo diálogo consigo mesma - precisamos de falar sem rodeios - ouviu depois o rapaz dizer. - Isto é, se queres que fique e te escute. Quer