Avançar para o conteúdo principal

Algós B. Tristão, o poeta cagão.

 

O meu sonho atirou-se da janela, lá para baixo,

tão frágil, doente, tão débil, precisou de atenção.

Morreu assim. Coisa ruim da gosma de um mau rapaz.

A sua verdade encontrava-se por debaixo,

de um ataque, ou é uma estrela cardíaca em explosão,

Ninguém a viu, ali, tão desunida com aquilo de que se julgou capaz.

Enquanto a maioria esgalha e esgalha, e só se anima,

com raízes de vãs alegrias pelos vãos de escadas,

sémen em pó, de um pobre, triste optimismo,

eu definho e faço do corpo papel daquele que só lastima,

não ter conseguido chegar às tetas mais anafadas.

Morrinho uma brutalidade de fingido potente antagonismo.

Como as unhas que deixo crescer, como os assustadores pelos

laxantes, dos meus imaginários cascos,

grito a justa luta, bebo, e depois enterro-a toda na minha lama.

Jamais serei melhor do que sou hoje, não por vossos modelos.

O fim é um pote cheio de palavras e de entrelaçados laços,

apropriados poemas escritos na ponta da cama.

Jamais! Quando me dedicarei por fim aos meus próprios?

Onde encontrarei a minha saudosa chuva de Novembro?

Tiros de rajada, morrem-me mais ídolos todos os dias,

que os pretensos alguma vez os conseguirão escrever sóbrios.

Escrevi clássicos, ou não? Fui escritor...? Já nem me lembro.

Ando tão bêbado que só escrevo arrelias.

No meu aniversário gritei uma jura pela janela.

"Hei-de foder-vos todos, siconfânticos,  nem que eu morra pelos pulmões!"

Passou já quase um mês e continuo vivo e desperto.

Não fosse por eles, a Clara, o Lucas, os pais e a minha 'Bela',

Teríeis uma estaca no lugar desses malditos corações.

Chegará um dia a noite, e eu serei seu filho dilecto.



In: "Uma velha de amarelo a empurrar um carrinho de compras"

2022



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012