Retornei a voltar a reiniciar um fresco percurso.
Ando a tentar caminhar novamente. Para já, só no labirinto da minha cabeça, mas aguardo a aberta para sair e meter os pés na terra-fel e seguir.
Ontem, mais uma vez, debative-me com a 'difícil' tarefa de apertar os cordões dos sapatos, a simplicidade desta acção versus a tarefa hercúlea de a executar, sempre me põe alerta. Bufei tanto que quase me saía a vontade por detrás. - Apertei-os e depois olhei lá para fora. - Vou caminhar! - Disse, determinado.
Não fui. Sentei-me e comecei a beber, habitual...Dentro, era como uma mola inútil. Inútil por não saltar como fazem as molas. De que serve algo que não faz aquilo para que serve?
Será o meu corpo desenhado para caminhar...ou, para beber?
Bebi mais enquanto a luta filosófica me colocava no meu tamanho humano. As fronteiras, as barreiras postadas em um batente sobre a minha vontade, são o muro de sempre. Ser saudável, saudável o suficiente para conseguir apertar os cordões dos sapatos sem suar, será mais importante do que o fim que adivinho no meu fígado por demais agastado?
Vesti o que tenho como 'roupa de caminhada', coloquei uns auscultadores nos ouvidos, apertei o botão e a a música emergiu, inspiradora. Estava na porta do prédio. Um senhor passeava o cão (um daqueles que só caga e não apanha), na loja por trás, um homem falava ao telemóvel. Não faço ideia do que aquele homem faz. Do que aquela loja produz ou vende.Sei que ele está quase sempre ali quando eu saio, e olha para mim como se eu fosse um arbusto. Estava ali, por trás de mim e deitava-me aquele olhar desprendido das suas sobrancelhas açoitadas como cordas.
Como a auto-estima para mim é como o monstro de Loch-Ness, dei meia-volta, e, como já expliquei, continuei a minha senda de beber. O que restar do mundo que fique por aí, regresso à minha janela, ao meu copo, e à minha garrafa que muda todos os dias. A mudança pode ser uma verdade maior que a auto-vergonha.
Na Quinta-feira, uma mulher bonita olhou para mim como se eu tivesse escapado à justa de um naufrágio, meio-afogado, todo inchado. - Vou deixar-me mudar por uma mulher assim?
Não!
Hoje, foi o homem bonito da loja que existe sem necessidade de ser. Vou interromper a minha missão de morrer antes dos 60 por causa de um homem destes?
Não!
O que existe de bom no mundo, já conheço. Há a família, e um punhado de amigos. Há a sanidade que não me abandona, muito embora alguns já comecem a questioná-la. Há também esta maldita vontade de querer pôr tudo por escrito, seja o que for. E isto, concedo, nem sempre, excede a noção de algum talento para insistir em fazê-lo, mas, faço-o por igual, pois é o único legado que julgo importante - perdoem-me os meus filhos esta frase - não a retiro. É por isto que quero ser recordado no grosso do mundo, não por eles, jamais por eles. Eles são! Eu nunca fui o que eles se tornaram. Talvez tenha sido parte disso, mas não, nunca o que eles se tornaram.
Continuo...
Hoje, de manhã, decidi não voltar a usar sapatos com cordões.
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