Se ainda não conhecem o Raoul Peck, não intentem começar a conhecê-lo pelo seu documentário mais mediático; o extraordinário "I am not your Negro". Escavem mais fundo, descubram-lhe os filmes de ficção, imersos na sua historiografia, nas suas vivências. Aguentem esses embates iniciais e depois, sim, atravessem para o estupor que o James Baldwin escreveu e narrou, para a pele queimada por dentro que é esse filme documental: "I am not your Negro". Se, ainda assim permanecerem convictos de que aguentam mais, prossigam para esta mini-série documental, totalmente introspectiva e arrasadora. - Spoiler - Raoul Peck atreve-se a ser protagonista no seu próprio trabalho documentarista e não faz atalhos nem poupa caminhos. São 4 episódios de quase uma hora de murros no estômago e chapadas nas fuças. De espigões longínquos espetados no coração, e que saem da TV sem os conseguimos evitar.
Ficámos ali a vê-los surgirem, a ver-nos, como se houvesse um espelho furioso no lado de lá do ecrã, um espelho que nos obriga a conhecermo-nos melhor, e falo de mim e de nós. Dos caucasianos, europeus e/ou americanos (europeus de raíz na mesma) que, nunca se poderão evadir desta herança maligna. Somos o que fomos, é incontornável, e Peck mostra-nos sem penas ou caridades.
Se aqui chegámos, foi porque os nossos antepassados 'exterminaram os brutos' que os incomodavam, e, onde estamos, neste momento, é o mesmo lugar. Continuámos a exterminá-los, porque temos sempre medo e usamos ad eternum a única ferramenta que julgámos capaz; a violência. Nada aprendemos, nunca aprendemos nada.
Comentários
Enviar um comentário
Este é o meu mundo, sinta-se desinibido para o comentar.