Há muito que deixei de ser alguém em quem valha a pena investir tempo, empatia, amor até.
Sou um bêbado! Um bom bêbado. Um bêbado bonzinho, ajuizado, direitinho. Bebo em casa, só, não incomodo, não arrebento a sociedade em geral, não cambaleio pelas ruas, não vomito pelas sarjetas aos pés de estranhos. Não acordo ninguém, nem sequer os vizinhos. Engulo tudo e regurgito para dentro de mim. Há sempre espaço dentro de mim, para tudo. Até para o pior de mim. Sou um bom bêbado e o pior dos bêbados também. Já nada me importa sóbrio, embora ainda me importe que não me vejam bêbado. Por isso bebo?
Sou um bêbado paradoxal e niilista. A conveniência da exposição deste desabafo, que me revela bêbado assumido, finalmente, deixa-me intransigente ou anódino. Escolha, seja quem for que isto leia. Quero lá saber. Andei anos a insinuá-lo, ninguém se importou. Agora é a minha vez. Estou-me nas tintas para que saibam quem sou, o que sou: sou um bêbado! - Aqui está.
As possíveis reações seriam a lástima ou o opróbrio. Não procuro a primeira, nem, tampouco, receio a última. A minha constante embriaguez carrega um propósito e quiçá seja iníquo o suficiente para escrever sobre ela e nem vos dar razões para que a compreendam. - Porque haveria de o fazer? - Não busco a vossa pena, e marimbo-me para a vossa repulsa. Raios! Escrevo neste blogue há anos, o que caralho é que já fizeram por mim?
Ok! Apanharam-me aqui. Suponho ser a réstia de veracidade enquanto se escreve, bêbado. - Sou um porco egoísta e narcisista, sim. Sou-o. - Convenhamos que, para efeitos de imaginar que alguém realmente lê isto, qualquer indivíduo disposto a entregar, sistematicamente, o seu fígado ao abismo, jamais poderia ilustrar uma imagem modelo de um bom ser humano. É justo. - Estou permeado de defeitos, como os favos de uma colmeia, como um queijo suíço. Há, em mim, uma tundra quase infinita de buracos sujos, onde só deito banalidades para dentro. Sou esse lugar comum, se alguma vez tal definição se adequou a alguém. Sou-a. Sou um bêbado!
É irrelevante que saibam que tudo isto está escrito em whisky. Que percebam o desalento. É somenos a vossa (possível) comiseração, menos ainda a vossa aversão. É a terceira vez que o reafirmo e mais não adianto. Apenas isto: Sou um bêbado!
Amanhã, talvez seja um morto. Esperemos pela boa sorte...
Se eventualmente passares da bebedeira a algo mais definitivo - e apesar de não querer filmagens para o Youtube - diz-me que vou alinhar que bebendo apenas água já estou no mesmo estado de espírito.
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