...misteriosos e absorventes. Mankiewicz faz o seu trabalho de casa e consegue
desempenhos extraordinários de todos os protagonistas, sobretudo dos seus três principais actores femininos. Isto, em um tempo em que
os filmes saíam dos estúdios como as salsichas emergem da máquina de as encher
de carne, em série.
Dez filmes após este, dez filmes todos eles mais ou menos extraordinários (convém dizer) após este,
Mankiewicz enterra-se no projecto de filmar "Cleópatra" (1963) com a Elizabeth
Taylor e, sem culpa própria, acaba por afundar todo o sistema de 'estúdio' até aí dominante, em um desbragar cavalcante que mataria o passado inteiro, o seu próprio passado, e iniciaria a contra-cultura cinematográfica do Hollywood dos anos 60.
Todavia, isso seria depois, muito depois. Em 1949 "A Letter to Three Wifes" demonstra bem o seu génio ao adaptar um mero, mas muito rico conto publicado na "Cosmopolitan" neste filme fabuloso e tão contrário ao que era comum filmar-se nesta altura.
Creio que, hoje, qualquer um que assista a este filme não conseguirá ficar indiferente à premissa tão presente, e quase futurista à altura, do empoderamento feminino, da noção tão bravia (então) de que a mulher também pode decidir o seu presente e futuro, de que as mulheres são, por si mesmas, justos indivíduos em igualdade de circunstâncias com os seus pares masculinos. Tão, ou mais capazes de assumirem os seus próprios destinos, sem necessitarem da permissão dos maridos.
É essa ideia que faz este filme tão importante, e é sobretudo a coragem de alguém como o seu realizador (um homem, da sua época) de a levar ao ecrã que o coloca em um lugar distante e diferente de todos os filmes dessa altura.
Felizmente não teve fim prematuro, e conseguiu o feito de alcançar os óscares para melhor director e melhor argumentista, ambos para Joseph L. Mankiewicz, assim como os acólitos de outros prémios que lhe couberam e, evidentemente, a nomeação para o óscar de melhor filme desse ano.
"A Letter to Three Wifes" é um fime que qualquer cineasta esclarecido haveria de ver, nos dias de hoje, para se inteirar de que, o fenómeno do femininismo não teve o seu dealbar na década das explosões, os 60, não! Muito antes disso acontecer, já haviam mentes esclarecidas que intentavam mostrar o que as mulheres são e valem. E é por isso que adoro este filme.
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