Saudades de ter amigos.
É, de todas, a que mais me assombra. Se antes me sentia essencial a um grupo, agora, e depois de me manifestar como sou, vejo-me nas franjas, onde todas as boas emoções se retiram deixando-me só no que expresso livremente porque sou.
É um peso incomensurável que balança alguma se preparou para equilibrar. É uma força imbatível que nos derrota à partida: querer ter amigos e afastá-los perpetuamente porque queremos ser como somos.
Um dia acordei e vi o abismo. Não era nenhum fosso, nenhum desfiladeiro entre coisas que existem para nos separarem. Era, tão somente, um branco nulo. Panorama de absurdo, onde um abraço surtia tão raro como um unicórnio, e a fala caía no terror do desuso do electrónico fácil.
Nesse dia percebi que sempre tive amigos contrafeitos. Vendiam-se-me com falsas etiquetas e pareciam-me tão verdadeiros que comprei tudo o que me abraçaram. Justo até sentir frio, um gelo oculto por baixo dos seus braços.
Mas, onde estão hoje? Até esses, até esses...me falham em um regalo. Sou demasiado qualquer coisa longe do que deveria de ser. Sou uma rima assaz insistente em um poema que só quer ser bonito e fácil aos olhos e ouvidos. Incomodo e como todos queremos a consistência do regular, os amores-perfeitos, a amizade de soltura que só se pode encontrar na quimera de uma rede social, tudo arranha cá dentro. Tudo irrita, tudo se desmorona incrivelmente fácil entre o silêncio que se oferece.
É provável que tenha sido eu a acreditar que as diferenças importam e suplantam as imagens batidas. O pobre regozijo de nos entregarmos apenas àqueles que nos espelham. - É mesmo muito provável, pois só eu é que me queixo - não vejo mais ninguém a fazê-lo.
E isto tudo o que tenho para dizer para já. Caio, e digo mesmo que o faço, caio! Tão triste, caio.
Os meninos mimados são uns ditadores. Os meninos mimados querem que todos à sua volta os sirvam. Querem que sejam feitos aos seus desejos e nada mais que isso. Culpar os outros pela ditadura que o menino mimado exerce sobre eles é uma paranóia que merece atenção médica.
ResponderEliminarSim, fui mimado. É verdade. Os meus pais e irmãos mimaram-me, talvez por ter sido o último a chegar, ou quiçá porque o mereci. Nunca me queixei desse passado, pois sei que os mimos que recebi me criaram mas não me construíram. Se ter sido mimado em criança é ditadura, não o ser agora em adulto talvez seja democrático. Justo. Aceito essa premissa, pois vejo-a invertida. Agora sinto-me censurado, oprimido, menosprezado, quando antes não mais me sentia do que livre e capaz de tudo. Dá que pensar, não?
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