Selvagens. Livres. Experimentalistas como a própria Vida...
Por vezes, a vida mostra-se mais dura do que parece ser possível aguentar, e começa-se a fingir que já nem notámos a passagem dos dias. Tampouco já nem reparámos nos disfarces daqueles que nos rodeiam e o que nos apetece mesmo é mandar tudo às favas e partir. Despedirmo-nos de tudo um pouco e sair à aventura antes que passe a nossa vez.
Metermo-nos à estrada, desfrutando deste mundo maravilhoso por todo. Contudo, epifanias desta natureza são coisas que requerem o seu quê de esforço. Não é coisa de somenos deixar-se uma vida inteira para trás das costas. Assim que encolhe-se os ombros e retorna-se ao facebook ou ao sofá.
Mas os heróis insuspeitos existem, e foi o caso de Chris McCandless (interpretado no filme por Emile Hirsch). - Certo dia simplesmente decidiu tomar fôlego e colocar em prática o que muitos apenas sonham às escondidas. Foi.
Tanto se dedicou à gloriosa tarefa de ser um puro espírito-livre, que acabou por perder a própria vida (e esta parte é um enorme spoiler para os que nunca viram esta pequena pérola dirigida por Sean Penn), morrendo de inanição, algum tempo depois de se ter misteriosamente esvanecido por completo da sociedade.
Desiludido pela vida materialista que herdara da sua família avantajada e logo após ter concluído os estudos, doou todos os seus haveres e optou por construir o seu futuro como um vagabundo livre. A deserção da sua antiga vida levou-o a criar um alter ego: "Alexander Supertramp" e a fazer uma longa e tortuosa viagem de canoa, rumo ao México. Posteriormente, pôs-se em contramão e destinou-se ao Norte, tomando qualquer emprego ocasional que lhe aparecesse pelo caminho de modo a sustentar o seu objectivo; atingir o Alasca.
"Into de Wild", retrata fielmente todo este processo de mutação de Chris McCandless. Adaptado tanto de um artigo como de um romance escritos por Jon Krakauer um ex-colega seu dos tempos de faculdade. Tendo esta história tanto polarizado a opinião pública, dividindo as águas entre os que louvaram a sua abordagem libertadora em relação à vida, e outros, os que vieram afirmar que as suas acções haviam sido irresponsáveis, mal-preparadas para enfrentar tais desafios e que inevitavelmente o conduziriam à sua morte, (o que, infelizmente, acabou por ser mesmo assim) faria sentido ser levada ao grande ecrã, e o resultado foi este filme, quase feliz, quase triste, incrivelmente melancólico e atrevo-me a afirmar; místico. - Realização e interpretações acima da média, e será também de salientar a fabulosa banda-sonora assinada por Eddie Vedder e Kaki King que revestem a narrativa desse exacto sentido do maravilhoso.
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Chris McCandless |
O autor, Krakauer, através de parte da sua (McCandless) correspondência, assim como de um diário que este mantinha, conclui que, ao se observar esta fatídica fotografia, encontrada entre os seus pertences e revelada posteriormente à sua morte: "Ele está a sorrir, e não há dúvidas algumas sobre aquilo que os seus olhos revelam." - Estava feliz, sereno como um monge a caminho de Deus.
"I now walk into the Wild"
Chris McCandless
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