Vila do Conde em Primavera antecipada é um chamamento com uma persistência vegetal, secreta. Vencido o manto húmido que pesava sobre a cidade nas últimas semanas, o ar pôs-se ligeiro, aliviado e chama-nos para as suas ruas. Primavera, finalmente a Primavera, tal como ela costuma chegar aqui depois de muitas hesitações e de muito trabalho para vencer as nuvens da costa.
As pessoas bem dão por isso. Sentem a necessidade de olhar o céu, vêem azul e um azul fino, alegre, e dizem baixinho: "era mesmo isto."
Depois descobrem as pedras louças das ruas ancestrais, o voo luminoso dos pássaros e a colina milenar a debruçar a cidade, diante do rio e dos campanários, cobertos de uma luz macia, feminina e descobrem um novo andar neste espaço todo. É isso a Primavera em Vila do Conde; um novo sentido no olhar, uma nova velocidade: "era mesmo isto", dizem as pessoas.
Uma romagem feita com a aparência do acaso vê-se na multidão atarefada com estes dias de Primavera. Circulam todos debaixo de um sol calmo e cada um olha o vizinho e o vizinho olha-o a ele. Até parece que as pessoas já nem giram em torno de si mesmas, das suas apreensões, ninguém parece alheio à luz, à maresia em cheiro que varre a cidade. Todos em conjunto fazem uma irmandade de pequenos fragmentos de Inverno em extinção, repelidos pelo tempo vencido, e em busca do tempo futuro. A Primavera em Vila do Conde é um ofício inteligente que altera todas as narrativas. Eu sou testemunha disso, e disse de mim para mim: "era mesmo isto."
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