A vida lá fora é um documentário.
Do segundo andar penso em palavras densas para mandar para a rua,
atirá-las ao filme em constante rodagem.
Daqui contemplo o ar das gaivotas e quero esse vento. Sou fraco.
Lá fora há gente com preocupações.
Aqui vive-se um tédio burguês.
As janelas duplas encerradas
fecham a vida para dentro de um computador. Sou fraco.
Não é por alguém que fraquejo
só me diluo no ar ou escorrego como a chuva-lágrima
a solidão alimenta-me na boca
até um dia.
Um dia meto-te a lua no ventre
para que nasça o sol de manhã.
Esta manhã nasceu do frio, suficiente. Sou fraco.
De tronco nu, destapado, estendido, os ombros queixam-se
os pés queixam-se do chão
a cabeça queixa-se do céu. De não voar.
Sou fraco!
Se a alma fosse etérea já teria partido para longe
de todo este sangue inútil.
A alma é energia. Os 7 gramas que perdemos no último sopro. A energia que nos faz mexer o cérebro e despoletar a criatividade como em «Um dia meto-te a lua no ventre/
ResponderEliminarpara que nasça o sol de manhã.»
Todos estamos de passagem até um dia. A forma como preenchemos cada um dos dias até esse é que nos atira ao mar de gostar de estar vivo.
Podia falar de frases feitas, de coisas já ditas, de expressões tão batidas...podia falar assim se me faltasse vontade de elogiar-lhe a dedicação a este meu mundo. Não me falta! assim que, elogio-lhe antes a si, caro leitor, por me interiorizar tão bem. Porque, exactamente, "a forma como preenchemos cada um dos dias..." é o que importa no fim. Mesmo para aqueles que demonstram uma 'persona' que nem parece "gostar de estar vivo". - Agradeço-lhe pela adição de mais estas 7 gramas ao peso definhado da minha alma. Suponho que qualquer sopro honesto nesse sentido é sempre uma lufada de boa energia.
Eliminar