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"Quando a cabeça não tem juízo..."


Pior do que o inexorável desgaste emocional, derivado de motivos, o incontornável descalabro psíquico que, vez por outra, (cada vez com mais frequência) me atira às cordas e me deixa ali, inane, a lambuzar-me na própria saliva que só quer gotejar da boca para fora, só quer aparvalhar-me, retornar-me ao útero. - Maldita boca que nunca se fecha. Malditos dedos doentes do síndrome de se mexerem em cima das palavras. - Pior do que este estado meio catatónico de auto-comiseração, é preocuparmo-nos com o próprio corpo. Como se este fosse o essencial de nós, só porque é visível a olho nu e aparece mais vezes do que deveria em retratos digitais. 
Não percebo a necessidade de deter ou limitar precocemente o que a vida acabará necessariamente por fazer.  
"A vida encontra sempre um caminho." Vi esta merda em um diálogo de um filme sobre dinossauros.  E o nosso retrato ali era horrível. Bem feito fazermo-nos devorar pela nossa própria arrogância!
A mesma espécie que derivou desta desgraça cataclísmica. Ora estas criaturas finaram-se porque levaram na tola com uns calhaus a sério, e depois vieram umas criaturinhas adoráveis ocupar-lhes o lugar, e desses ridículos proto-aproveitadores, surgimos nós. Relativamente ao meu corpo estou-me cagando, o mesmo corpo que evoluiu desses idiotas. Aliás, explico aqui com todos os números que me pesam, estou obeso e cago-me para isso. Não é para isto que estamos a acabar com o planeta e com tudo o que o compõe? Agora lembrei-me do "Wall-E", é impossível dissociar-me do cinema, explica-me sempre tanta coisa que não me interessa mas das quais sou incapaz de desviar a atenção. 
Mas, agora a sério, gostaria muito de saber por anda a minha pujança, o meu 'mojo' se assim o quiserem perceber. Onde é que raio é que eu estou? E sobretudo, porque estou assim?
Há dias esbarrei nesta frase em um livro (sim, eu também leio): "É sinal de pobreza de espírito gastar muito tempo com assuntos que digam respeito ao corpo.."
À parte dos imperativos biológicos, tenho para mim que, mais tarde ou mais cedo, todos acabamos por deixar de dar importância a estas coisas carnais. Quer dizer; continuamos a cagar e a mijar, a foder amiúde, é tão somente um mecanismo embutido que trazemos dos tempos posteriores aos pobres dinossauros. Enfim, fazemos o que temos de fazer no quarto-de-banho e o resto onde conseguirmos. Também pode ser aí. Comemos e bebemos e se chegarmos a considerar a questão de já nos babarmos assim tanto com menos de cinquenta anos, talvez até devêssemos beber mais do que aquilo que consumimos regularmente. Depois dos 100 quilos já ninguém conta verdadeiramente. Porém, nenhum ser humano se deveria focar com tanta dedicação ao acto da baba incontinente. Na verdade, nenhum ser humano se haveria de ater à mera questão daquilo que purga do corpo. Que cada um se meta naquilo que lhe diz respeito, e por respeito, intuo que cada um haveria mais é de se preocupar com o que é, com o que quer, e com o que pretende realmente, aparte de tudo o que jamais consegue.
O Homem nunca conseguirá trocar a sua individualidade pela crista do seu penteado, pela cintura da sua existência ou pela compleição da sua irresponsabilidade. E isto vem à deriva do maldito ginásio que mexe diariamente em frente dos meus olhos e me coloca a existencialidade em dúvida, dia sim, dia sim.
Suponho que, temos todos uma inata vontade de contrariar a nossa própria humanidade, viajámos pelo caminho das nossas vidas em busca de alguma perfeição qualquer. Só é pena, que muitos de nós, se decidam a concentrar esta perseverança no corpo em vez de...
Claro que muitos de nós se sentem abelhas em uma comunidade exacta de indivíduos inanes, que se babam todos pelo mesmo, por si mesmos em carne, por si mesmos melhores do que aquilo que realmente são, ou quiçá, melhores do que o pensamento colectivo que lhes ensina a querer ser o que não são.
Portanto, termino com outra merda que li algures (aposto que pensáveis que iria colocar aqui outra referência cinematográfica): "Todo o bem e todo o mal residem na sensação, e a morte é a erradicação das sensações." - Sou gordo e feio. E tenho quase 100% de certeza de que o António Variações era um génio. De modo que, vou cagar e escrever um outro texto igual a este, algures.

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