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O Interesse da Solidão

A solidão, de todas as marcas de fogo que carrega o ser humano, é, indubitavelmente, a mais perturbadora. Lembrem-se todos: sois filhos dos vossos pais. Sangue de ferro, coração de gelo... carcaça de geleia, polme infinito.... Intermitência da vida antes e depois. Somos todos tão inconsequentes pelo que fazemos para chegarmos onde estamos. - Escreverá algum dia alguém um livro sobre nós?
Ainda estou para fazer 50 e já tudo me soa a tragédia. Isto é solidão! Fico doente só de pensar, como se a própria ideia me aleijasse fisicamente. Envelhecer não é uma coisa boa para pessoas como eu. Lembra-me o Céline a dizer: "Se envelhecer cedo demais..." - Só isso.
Beber, beber, beber...ostras fumadas aos feriados, corações de alcachofras por acaso e chocolate belga a enojar-me a fobia aos Domingos, Meu Deus!
Perdido em um mar cintilante de solidão humana, encontra-se um pequeno lugar da cor do chumbo. Não é a minha nem a tua, é. Porque a solidão nunca quer ser, mas acaba por ser próxima em momentos de espaços vazios.
Vazia mas nunca vácua. Vácuo é sempre que exista nada. Nada não é natural existir. - Como a solidão - Mas existe ainda assim. É vazia, como um vazio onde nos apercebemos que seria suposto ali existirmos, contudo, sofremos porque algo nos faz falta. E é isso a solidão; um vazio que significa algo em falta.
E é assim. Os solitários são como flores tristes que não têm onde crescer.
Em proporção com a vida onde nasceu, este lugar rochoso, parece-me, amiúde, o grão de arroz que vi  em tempos, no chão do salão de baile onde conheci o amor. O que é belo assim é e chega, porém, só é belo quem é bom, e ao resto decapita-se sem remorsos, pois cortar cabeças não dói só se acrescenta solidão ao milagre dos preteridos.
Então, sonhar a lupa dos seus olhos nos meus foi um mundo completo, agora, não estando, sinto-me em forma e mijo todos os dias às sete da manhã e cago às oito e este desaforo apalavrado pode muito bem ser apenas aquilo em que me tornei, sem nunca ser o que sou, realmente.
A solidão, de todas as farpas que deixamos espetarem-nos, e que também auto-espetamos, ao longo de vida inteira, é aquela que mais nos dói, que mais nos fere.
E se me pensais palhaço por dizer "mijar" e "cagar" é porque o sou certamente, e também, porque os palhaços não têm culpa de o serem, só estão a fazer o seu trabalho.
Acordei esta manhã, e nem acreditei no que vi: parece que nem estou sozinho em estar só. Há um outro bilião de náufragos a darem a esta costa de maus murmúrios, todos à procura de um lugar só seu. E isto veio da Lídia e do Gordon... nem é meu sequer, para que não hajam equívocos entre os odiosos do costume.
O segredo da verdade é o seguinte: não existem factos, só histórias individuais. Eu gosto de tantas coisas derivadas de motivos que agora já não interessam nada. O que é solitário como pensamento, mas, não deixa também de ser muito interessante. Sim, muito interessante. E mais nada tenho a dizer sobre este assunto.

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