Avançar para o conteúdo principal

Mr. Hyde


Vim a saber que sou um pulha!
Descobri-o entre e entretanto o dia do meu aniversário, o pior de sempre em quarenta seis contados com atenção.
Bolas! Sempre me vi como um bom cabrão egoísta. Foi uma grande decepção descobri-lo assim. Pensei que os cabrões egoístas também mereceriam qualquer coisa de vida. Alguns instantes de bonança. Um valente cabrão não é nenhuma bomba suja, algum nazi em evolução, daqueles terroristas que só são bons para se descarregar explosões pálidas de raiva em cima. Brutalidades verdes de verdadeira cólera, cegas, protegidas pela virtualidade. Afinal são e sou. Mas enfim, atirem, atirem à vontade. Quer dizer, cabrão que seja, não me lapidem é no escuro, façam-no às claras, peço-vos. Se for para levar porrada prefiro que se vejam as medalhas roxas. Saber que sou um pulha também é um bónus talvez. Algum prémio demoníaco inusitado. Sou cabrão só às escondidas, como uma identidade secreta, na vida real sou um pó inócuo. - Em boa verdade prefiro ser um pulha!
É do que escrevo, dizem-me. De que mais haveria de ser? É de lá que me vêm as cuspidelas. Que não faço ressonância senão nos outros pulhas e nos canalhas e nos filhos-da-puta. Que nunca encontro os caminhos nivelados da consignação. Que chatice! Logo eu que nunca procurei nenhum mecenas ou lambi fosse o que fosse duro ou mole que me trouxesse benefícios. Caramba! Vir a saber que mesmo assim sou um pulha, é quase tão trágico, que chega a ter piada.
Então não gostam do que escrevo? Ou não gostam do que sou? As duas coisas nem sempre se intersectam, sabiam? Pronto, não faz mal.
Andam dez mil aqui ao lado a escreverem também, é só avançarem em frente e certamente encontrarão quem vos faça desfalecer de puro júbilo. Aqui é território da minha cabeça, que é egoísta sim, mas ao menos é minha, não faz parte de nenhum fraco avanço da humanidade. Penso por e com ela e dela sai o que escrevo. Ide-vos sim? Ide ler, por exemplo, o Pedro Chagas Freitas que é tão bonito e bom rapaz e escreve todos os aforismos estapafúrdicos do amor excelso cheio das palavras certas que é o que quereis ler afinal.
Eu, sou só um miserável pulha, que fiz anos ontem. Obrigado. Parabéns aos pulhas, vá, que também precisarão de existir em algum lado.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012