Avançar para o conteúdo principal

# Hachetague # Matem-me agora, antes de voltar a escrever seja o que for.


Uma zona de conforto é um lugar maravilhoso, mas nada jamais cresce aí. Mesmo assim, não é fácil abandonar tal recanto para se entrar em um mundo selvagem, povoado de opressores em cada canto. É necessário uma certa efervescência de vontade, levantar os pés do chão, e antes de passarmos as nuvens, deixarmos os sonhos para trás, restabelecermos relações com a realidade e encararmos tudo com a mais profunda calma, como se fizéssemos um pacto de silêncio com a auto-determinação.
Se eu fosse um lugar seria assim, ou um lugar como acreditei que um lugar assim deveria de ser, teria sido deslumbrante e triste como uma faca a cortar livros de areia, e, em grande parte, ao acomodar-me nesse conforto ilusório, em efeito retalhando possibilidades ou trafulhices sentimentais por anos a fio de truques e tiques escritos sem grande impacto, fui-o, mesmo que só eu acreditasse que estaria confortável e foi por isso que falhei tão alto.
Sempre me maravilhou a literatura do realismo mágico, aliás, fiz todo o meu caminho até aqui nesse deslumbre tão inútil, tão estranho e imponderado, uma máquina incessante que me tirou as mãos do corpo e o corpo pareceu-me distante desse lugar e esse lugar tão afastado da Terra. Vim a descobrir que o novo mundo não me quer. Sou sujo e barulhento, inconsequente. E, por madrugadas infinitas de luz, esperança e aço senti-me formidável no meu confortável lugar maldito, mas vivia em um outro lugar, longe desse. Do lugar que imaginei que deveria de ter vivido.
Fui narrador e personagem, fui pai e filho, marido e amante, sonhador e louco. Matei-me e reconciliei-me com algumas emoções mais violentas. Nessa zona lancei barcos invisíveis e tão belos que ninguém neles quis embarcar, por medo de os destruir de tão frágeis que pareciam (quis acreditar). Não o eram, nunca o foram. Mesmo assim sentei-me por noites perdidas sem conta e escrevi o meu futuro, sem saber sobre o escuro que me iria cobrir eventualmente.
Não consigo mais. Acabou-se. Desligam-se-me as mãos devagar, e permito que o tempo me cubra de vergonha agora, se misture com o meu corpo, me entre pela boca me suba à cabeça e me execute mansamente enquanto o meu futuro se enche de longas esperas sem proveito.
Tem de haver sempre um momento onde se realizem os fracassos no espaço real de existência, onde se desmantela definitivamente toda a magia e se libertam as pombas brancas da desistência. Há que encarar tudo isto e deixarmo-nos de choradeiras, pois o mundo selvagem não tolera sonhadores de quarenta anos, mastiga-os e cospe-os e é assim que tudo termina, em um lugar real. Tão filha-da-puta real que nem o consigo imaginar ou escreve-lo. Por isso, 'hachetague' meus caros. 'Hachetague' tão actual e presente, que eu nem sei escrevê-lo direito.

 OMirojánãoescreveporranenhuma



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci

António Ramos Rosa, in "O Grito Claro" (1958)

Três!

  Fui e sempre serei um ' geek '! - Cresci com o universo marvel nas revistas que lia em um quase arrebatamento do espírito em crescimento. O mesmo aconteceu-me com " Star Wars" , e com praticamente todos os bons  franchises que me animassem a vontade.  Quando este universo em particular, ( marvel ), surgiu finalmente em forma de cinema, exultei-me, obviamente. Mais ainda quando tudo se foi compondo em uma determinação de lhe incutir um percurso coordenado e sensato. Aquilo que ficou conhecido como MCU (Marvel Cinematic Universe). A interacção pareceu-me perfeita. Eles faziam os filmes e eu deliciava-me com os mesmos. Isto decorreu pelo que foi denominado por fases. As 4 primeiras atingiram-me os nervos certos e agarraram-me de tal maneira que mormente uma falha aqui ou ali, não me predispus a matar o amor que lhes tive. Foi uma espécie de idílio, até a DISNEY flectir os músculos financeiros que arrebanhou sabe-se lá como, e começar a comprar tudo o que faz um '