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Sobre a profunda idiocracia de se 'fazerem' escritores



Curso prático 'Publicar o meu livro' | 17 e 24 de fevereiro
Livraria Bertrand Shopping Cidade do Porto
Formadora: Rita Canas Mendes.


Não acredito em currículos ou diplomas ignóbeis, impressos em massa numa "Staples" mais próxima. Acredito apenas no 'bom dinheiro' que muitos irão dispensar a este curso, cegamente imersos naquela esperança inflexível de que isto os fará 'escritores' e daqueles eternos.  De que isto lhes abrirá portas, lhes criará oportunidades. É tão obsceno este 'isto' que me faltam os adjectivos mais superlativos para o qualificar. E foco-me neste projecto da Bertrand apenas porque me apareceu debaixo dos olhos. Não estou a singularizar a Bertrand. Muitos outros, consideravelmente mais 'insignificantes' que a Bertrand têm-no feito. É quase tão desprezível condenar alguns, como a Chiado Editora, por estabelecerem um modelo de negócio tão letal para as aspirações de um jovem escritor como equipará-lo a estes enormes consórcios editoriais, que agem da mesma forma, mesmo mantendo uma imagem de respeitabilidade e 'qualidade'. 
É muito provável que este combate de negócio tenha surgido porque os 'grandes'; o grupo Leya e a Porto Editora, se tenham apercebido que os rafeiros do género, a Chiado e afins, encontraram a pedra de toque, a mística do Midas no seu modelo. Acredito também, e sei-o por experiência própria, que, desde que a actividade se modernizou e se tornou 'aberta' a qualquer um, veio logo acompanhada destes usuários e aproveitadores de sonhos, destes canalhas que farão derrocadas sem remorsos nas esperanças mais puras em troco de um euro fácil.
Acredito também, e isto já me vem de trás, que a arte de escrever não deve ficar nas mãos da elite. Dos escolhidos pelo sistema, dos ditos 'especiais' e dignos do engrandecimento. Logo, esta é a questão das questões para qualquer um que queira escrever como vida: Deverei vender-me pela facilidade vil do agora ou desaparecer aos poucos, aguardando um futuro imprevisível que me faça finalmente digno desse rol endeusado de gigantes, sem esperar grande coisa em tempo de vida?
Talvez que, escrever, nos dias de hoje, já nem seja uma decisão do criador em si, mas 'do bom dinheiro' que nele se invista com um fim indeterminado. 
É que, quem escreve e precisa de escrever, não pensa realmente em lucros, mas acredita sempre nas pessoas e na sua vontade de o lerem. Quer isto dizer que, quem escreve, escreve para ser lido e não por alguma falácia sexual de se vir em prazer no seu trabalho. Masturbo-me quando me apetece, não quando escrevo. Esqueçam isso, é uma mentira fatal.

P.S. - Quero deixar bem claro que não tenho editor fixo, bolas, não tenho editor algum, ou consultor, ou agente literário, ou padrinho ou de algum modo, alguma forma manietada de perfurar este mercado hermético e injusto. Escrevo apenas e sempre escreverei, apenas. E isto, suponho, é o que deveria ser a actividade de se escrever como forma altiva de pensamento, como passo decisivo até um fim próprio. Até alguma eternidade digna.


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