(...)
Germina precisou de horas
até chegar a um estado desempenado de repouso. Quando a apanhei, flutuava de
costas com os olhos abertos, e as mãos agarradas ao peito, coberta por um manto
branco de veludo, gorduroso. Tinha o corpo húmido, e parecia cinquenta anos
mais fresca. É o que dá querer agradar às
pessoas, em muito boa dicção, pela majestade da grande literatura. – Pensei.
– Fiz um estudado juízo, como sempre o fazia em diferentes leituras pelos
diferentes ‘clientes’, e por saber-lhe o marido, corajoso – penso eu - bacalhoeiro
embarcado na longínqua Terra Nova, julguei inspirada a minha selecção, tentando
assim muito impressiona-la de surpresa. Bacalhaus, baleias...fazia tudo parte
do mesmo intrépido sangue nacional, mas não foi assim com a Germina. Acabou por
ser um retumbante desastre, para ela sobretudo. Em vez de se encantar com a
história-maravilha, desmanchou-se toda, ali na minha frente e tê-la-ei enviado
mais cedo para o lado dos mistérios.
No fundo até lhe terei
feito um valente favor, visto ser a sua história de vida até à data, um retinir
fininho e gelado de nulidade. Na hora da sua morte, concedi-lhe a grandeza do
eterno clássico americano.
Mas isto, por si só,
seria uma história demasiado insipida para relatar. Esta não o é. O que conta
nas histórias é a violência das mortes, não os mortos.
As histórias felizes provocam-me
asco. Esta difere dessas, das que por aí se narram desnudas e sem parcimónia,
ao gosto da mais vulgar junção possível de palavras. Se procurais finais
felizes, estareis certamente a ler a história errada.
(...)
Comentários
Enviar um comentário
Este é o meu mundo, sinta-se desinibido para o comentar.