Avançar para o conteúdo principal

Coração de Lã


Foi em Novembro, talvez
nos últimos dias
quando as coisas começaram a ficar demasiado tristes
sem qualquer razão especial.
Despiram-se todas as árvores arteriais
de uma vez
antes, tão cheias
de boas memórias sadias.
Aqui e ali, desafogado, um longe
ou alguma ideia peregrina já esfumada.
Está tudo mal
por estas amplidões espaciais.
Uma crepuscular penumbra permanente
de vida abandonada
no final da hora ou do dia ou do mês.
Foi por esta altura do ano que me ocorreram as modas defuntas
que o meu avô usou na mocidade
disto recordo-me por uma doce voz










julgo que do mesmo coração quente, cansado da viuvez.
Fatiga-me o olhar aquele descampado imenso
as pernas juntas
descosidas no cós
e o chapéu abaulado por uma só presilha sem idade.
Uma melancolia fotografada por três gerações.
Sentirei assim tal lembrança, e com tal afã
por almas cativas em retratos e poemas dispersos?
Não sei.
Foi este mês, quiçá, mês d'acalmia.
Não estou bem certo, pela mistura de tanta saudade
vestida em tantos desnudos corações.
Por via das dúvidas escrevi estes versos
para não o deixar só, para nunca ser tão vã
a nossa fraterna nostalgia.




Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...