Avançar para o conteúdo principal

A modos que são muito mais que meros títulos


Não é preciso muito para me entreter. Uma simples premissa, uma mão cheia de bons filmes, ou uma imbecilidade qualquer que a minha cabeça divisa para se ocupar entre as vagas de obscuridade. Hoje pensei na importância do casal Elaine e Saul Bass no cinema.
Cada um a seu modo próprio, brilhantes designers, Elaine, que antes trabalhara na indústria da moda 'prêt-à-porter' fez o seu caminho até se tornar assistente do grande designer gráfico Saul Bass, em 1955. Saul, que paulatinamente se tornara uma espécie de paradigma nessa actividade; trabalhou com e para: Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Otto Preminger, Billy Wilder, e Martin Scorsese inventando neste percurso desde finais dos anos cinquenta até meados dos setenta, uma espécie de nova tipografia cinematográfica.
Aventurou-se igualmente na realização, dirigindo algumas curtas sem grande projecção e a  estranha e maravilhosa película de ficção-científica: "Phase IV" (1974), uma clara metáfora às possíveis consequências da 'Guerra Fria' desenhada na desbragada acção do Homem contra a natureza. 
Porém, a parceria com Elaine, igualmente talentosa, só poderia resultar em bons frutos, e, em 1960 esta dirigiu a sua própria sequência dos títulos do filme de Stanley Kubrick, "Spartacus", continuando, pela década de 60 fora, a dirigir outros igualmente relevantes na história do cinema. Nos princípios da década de 80, o casal cansou-se do rumo que o cinema, como o entendiam que deveria ser, prosseguiu e desistiram da carreira como desenhadores de créditos iniciais, entregando-se exclusivamente à família.
No final da sua carreira (é sempre assim) Saul Bass foi 're-descoberto' e juntamente com a sua companheira Elaine, re-lançaram novos títulos geniais aos seus já extensos port-fólios.  Sobretudo em filmes de Martin Scorsese, conhecido cinéfilo e aficionado por tudo quanto é bom cinema. Elaine e Saul Bass criaram as aberturas de filmes memoráveis tais como: "Goodfellas", "Cape Fear", "The Age of Innocence" e "Casino", reafirmando novamente o seu incontestável brilhantismo na arte do design gráfico aplicado à titulação cinematográfica.
Em baixo estão alguns dos seus trabalhos mais memoráveis. Quem é que poderá esquecer a deslumbrante cerimónia de abertura do filme de 1959 de Otto Preminger, "Anatomy of a Murder". É absolutamente brilhante!
Assim que, reuni alguns destes títulos em um ciclo improvisado e hoje será o meu dia 'Bass'. Elaine e Saul, obrigado por me cativarem a atenção logo antes do filme começar.





 

Elaine e Saul Bass



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...

O discurso do Corvo.

Eis-me aqui, ainda integralmente vivo e teu, voo ao acaso, sem saber por quem voar, por sobre rostos de carne, palha e infinito. Trago as mãos feitas num espesso breu, toldadas pela sede de te possuir e de te dar, o ténue silêncio, que é tudo aquilo qu'eu permito. As palavras, quando são poucas, sabem melhor, dizem tudo melhor, se forem poupadas. Abre os braços então, e recebe-as em teu seio, a secura desta terra já consome o sangue do meu terror. Já falei, e agora vou voar num céu de pequenos nadas, disperso no bando obscuro, mesmo lá no meio. De modo que, apesar da lucidez dos meus instantes, continuo sempre algures, no longo espaço que nos envolve. Nada temas destas mãos de cinza que já não tem dedos por onde arder, Eis-me para sempre, nos interstícios perdidos e distantes, desta paixão que é dada, e que não se devolve, e que é minha e tua, porque assim tinha de ser! Casimiro Teixeira 2012