Outrora fomos cinza, enxofre e um breu grosso.
Caminhantes que se atrasam sem se saber já mortos.
Fomos faúlhas de morrão que nunca acende.
Sim, fomos um passo de vento, lento e incessante,
que empurra para longe o que é nosso,
e nos deixa n’alma o fogo dos tormentos.
Fomos o que nos castra, nos tira, nos rouba, nos prende,
nos torna neste ser que não recua nem vai avante.
E eu não quero mais ser pedra a arder nesta fogueira.
Por isso me ergo e lhe quebro a dureza,
com ritos impenetráveis de suaves pilastras,
não mais carentes de serem gume.
Por isso escrevo desta maneira,
Pois é a forma que espanto, é a certeza,
O fio etéreo com que remeto minhas palavras,
Confiante de sair incólume.
Hoje, hoje somos todos pedras irmãs,
roliças, delicadas e cientes desta empatia.
Se, em tempos, (como muitos iguais)
Fomos arestas rudes que cortavam,
as tristes penas de nossas vidas vãs,
agora, não mais deixaremos de sentir que existe poesia,
no falso fundo desses que ademais,
por pouco, por pouco, quase nos matavam.
O tempo de incertezas deixei-o na distância,
dessas pedras de fogo que mal me adivinham,
e parti de novo, de novo caminhante.
Pequeno seixo redondo de condição dúctil,
como eu, existem alguns, mas de fraca abundância,
juntos nesta demanda todos caminham,
já sem sermos homens, mas poesia ambulante.
E em breve seremos tantos, em breve seremos mil.
"Que Alguém Saiba que és um Homem"
2013
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