Avançar para o conteúdo principal

O azul é lá longe


No dia 19 de Dezembro de 2013 o conhecido blogger Jason Kottke decretava a morte dos blogues, sinalizando o declínio social e mediático da blogosfera perante a ascenção das redes sociais.
Esta alteração de paradigma viria configurar uma profunda revolução na forma como nos relacionamos com a informação no mundo online. Neste novo ecossistema da internet os conteúdos são valorizados sem interacção humana directa tendo por base um grande conjunto de variáveis: o número de “gostos”, comentários e partilhas de uma publicação, mas também inúmeros factores de selecção e quantificação só conhecidos para os proprietários destas plataformas.
Sendo capazes de estabelecer um retrato particular de cada utilizador, abrangendo campos muito diversos do seu universo de interesses, as redes sociais conseguem também oferecer uma experiência de utilização específica, diferente para todos e dedicada a cada um de nós. Desta forma, os algoritmos tornaram-se muito mais do que meros auxiliares de selecção e valoração de conteúdos num mundo saturado de informação. Em boa verdade os algoritmos são agora verdadeiros construtores de mundos, capazes de fabricar bolhas individuais onde vemos cada vez mais aquilo que queremos ver mas onde nos é filtrada a diversidade da realidade exterior. Trata-se de um fenómeno sem precedentes cujas implicações culturais à escala global são ainda desconhecidas e difíceis de prever.
O que está em causa na transformação profunda que teve lugar na internet na última década é um grave abandono do factor humano na curadoria do conhecimento sobre o mundo que nos rodeia. Vivemos rodeados de filtros digitais que nos proporcionam “redes egocêntricas” e nos gratificam a cada passo. Se os blogues eram um deserto, as redes sociais são um laboratório de optimização de interacções. Eis o último estágio do capitalismo aplicado à nossa vida social: um poderoso sistema de estímulos que proporciona “gostos” instantâneos e partilhas fáceis, mas que oculta os mecanismos, os motivos e os interesses que estão por detrás do “mural” que coloca em frente aos nossos olhos.
Continuarei sozinho no meu 'deserto'.Mais do que a perda de relevância enquanto lugar de produção de conteúdos, aqui, agrego realmente a informação que quero, e pouco me importa o declínio deste formato cronológico invertido que se tornou quase universal na internet partir de 1997, o azul é lá longe, aqui o algoritmo sou eu.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...