O Outono deixa-me os olhos mais rápidos sobre os livros
e perde-me sempre de propósito
o bom discernimento
atirado ao acaso em tudo o que li
pelas ribanceiras traiçoeiras.
Bebi três litros de uísque de malte
e por isso caí.
Na cumeada a galope escorreguei e caí.
Lá em baixo, desempedrando os dignos monstros
às vezes só por graça de neles me perder,
passei a eito o título e a dedicatória
e abandonei páginas em branco em busca do embate
desprevenido da fecunda gavinha.
Só que as pessoas que escrevem são todas matreiras
mentem em cada fôlego que os faz nascer,
enganam-se muito, riscando as regras da busca do escaparate.
Logo na primeira pagina fazem amor os personagens
que enfadonha decepção!
Fumo um charro em sua memória.
Mas vim a saber que tinham os sonhos cheios de pedra e solidão
e por isso se punham unidos de todas as maneiras.
Três passos ou páginas e alagam-se logo de beijos figurados,
quando já eram outras horas. Outra história
e o tempo só uma rima de verbos acabados.
O Outono atira-me o corpo pela agreste arriba de saibro
e esconde-me por um momento
da sombra que se deita com a minha
nesta cama tão dura.
Toda a história da razão me parece uma mentira
sem solução.
No caminho; plátanos, ciprestes e heras desavindas
e a gruta imensa onde me escondi desatento.
Escavado na rocha, estive eu, sobre o abismo desprevenido
onde cresceram palavras, levitadas a cem metros de altura.
Foi tudo uma matéria escura.
Vem agora a bicharada, agasalhada deste desalento
e deixo-os passarem, pois estou despido,
e bêbado e ganzado e morri anteontem
no começo deste poema, selvagem e puro como um bicho.
O Outono faz-me a boca enorme!
E eu ainda gotejo o hálito da primeira manhã,
para lá do primeiro sinal da dor,
ficou só uma cicatriz feita do que me pressentem.
Talvez seja a ressaca a ditar-me o próximo alvor
pelos bosques perdidos onde morri sem saberem.
Importa é que saibam que este poema é um lixo,
de um homem que já morreu, mas morreu agradecido.
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