Avançar para o conteúdo principal

Já fomos caminhantes de mãos dadas


Este é o meu tempo futuro,
que tanto temi que chegasse.
E é quase tudo quanto me resta,
tarde, incumprido e infecundo.
Lembras-te dos fundos recatados
que ninguém vê,
por trás da luz do balcão?
Ali nos pusemos ao abrigo
onde não chega a aflição nem o resto duro do mundo.
Ali fomos dois amantes deitados em uma floresta
virgem de sentimentos desesperados.
Peregrinos alheios ao tempo que se acabasse,
e mais não digo.

Este é o meu presente, horrível dia
de rebentação.
Instantes tolos de um amor que se decide, 
e que nem vivi por pura concentração.
Talvez tenha sido a pele um estorvo
ou as palavras em carne viva em demasia.
Qual gomo suculento caído ao chão
lentamente mordido ou sem demora.
Até que a luz inteira fraquejasse, sem mercê,
e a ausência alada do corvo
morresse, longe daquilo que ninguém crê.
Conta-me do que falamos atrás daquele balcão.
Para que não mais guardemos lembrança
vaga e desprendida de nomes e datas
e assim nos faça paz o sono de agora.

São estes os meus tempos já do passado,
o Sol adormeceu em um pálido frio pelos caminhos do nosso bosque
e a fúria só admite palavras indizíveis.
Todos os gestos acabam assim, descritos em hesitação,
como se fossem janelas esquecidas
repletas de rostos invisíveis.
Palavras que te disse, porque é este o meu corpo mansão
jamais as esquecerei ou o nosso arvoredo alcantilado.
Se se acabar, que fiquem ao menos as oportunidades conseguidas.
Deixei-te alguns livros
para leres a razão de me teres atravessado,
a união.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A queda de um anjo triste.

Desafogados brilhos desta existência, quis olhar em frente, e vi somente escuro. Escuro, escória, lixo, lama e penetrante breu. Quis seguir em frente e não mo permitiram. Quis marcar presença, caí, e fui banido. Quis viver, e fui marcado a fogo com o rótulo do nada. Malditas palavras que me acendem esta vivência, pudera eu ser livre, e não viver por trás deste muro. Ser vento, ou poeira, e correr solto pelo esplendor deste céu. Malditas palavras que de mim emergiram, ainda mal as proferia, e já as via, abafadas em seu ruído, como se fossem pássaros, abatidos em revoada. Como eu mesmo, abatido assim, em tenra idade. Mas sosseguem, pois sou coisa irritante que insiste em não morrer. Malogrado pela estupidez do desprezo, sou, ainda assim, Homem! Homem! Homem... Estou vivo, e não desabo. Desafogado percurso que ainda mal começa, não verás teu fim nesta desdita amordaçada. Quis dizer o que quis, e não me faltou a vontade. Mais fáci...

Acerca de Anderson's...

Hollywood é um gigantesco cadinho demente de fumos e fogos fátuos. Ali se fundem todos os sonhos e pesadelos possíveis de se imaginar.  Senão, atentem, como mero exercício, neste trio de realizadores, que, por falta de melhor expressão que defina o interesse ou a natureza relevante deste post, decidi chamar-lhes apenas de os " Anderson's ". Cada um mais díspar que o outro, e contudo, todos " Anderson's ", e abundantemente prolíficos e criativos dentro dos seus géneros. Acho fascinante, daí querer escrever sobre eles e, no mais comum torpe da embriaguez, tentar encontrar alguma similitude entre eles, além do apelido; " Anderson ". Começarei por ordem prima de grandeza, na minha opinião, e é esta que para aqui interessa, não fosse este um blogue intrinsecamente pessoal onde explano tudo e mais qualquer coisa que me apeteça. Sendo assim, a ordem será do melhor para o pior destes " Anderson's ".  O melhor : Wes Anderson .  O do meio : Pau...